terça-feira, 18 de dezembro de 2012

os sonhos e pesadelos de agora

Porque, nos últimos meses, ao sentar para escrever algo e deixar meu cotidiano de lado, as palavras me escapam... me fogem... Um quadro branco se posta em minha frente imutável, silencioso, sentencioso. Tenho sido engolida por tudo o que me afasta dos sonhos, mas também tenho me ocupado demais dos sonhos, dos planejamentos, dos fatos concretos da vida, dos prazos, dos horários, das contas. Mas os sonhos a serem postos no papel são outros... aqueles que deixamos escorrer pelos nossos dedos em forma de palavras, são os que sonhamos de noite, os que não estão apenas em nossas mentes, os que refletem um pouco do que vai em nossa alma. 
Tenho tido pesadelos nestes dias. O passado recente me esmaga, me apequena. São as pequenas dores, as mágoas engolidas a seco e não digeridas e a luta diária para esquecer tudo isso. São as pessoas que nos roubam a paz de espírito - e que deixamos, de algum modo, em algum momento, que nos roubassem... São os ódios que nos invadem sem pedir licença e que nos cegam para a vida que floresce apesar de nós.
Talvez assim mesmo seja a vida, com alguns caminhos de perguntas sem resposta, com sentimentos que não desejamos ter, com os espaços que temos que abrir, mesmo com força, para deixar entrar novamente o que nos aquieta, nos faz sorrir e nos permite dormir à noite sem os pesadelos. Essa vida de momentos em que temos que cavar o solo com as mãos e desfazer o vermelho das unhas, com a hora chegada de plantar nossas sementes, adubá-las, deixar cair a chuva e rezar, buscar, aonde quer que tenhamos perdido, um pouco de fé, e pedir a Deus, de joelhos, que floresçam. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

pelo caminho

nuvens carregadas e vento soprando alheio ao que balança ao redor...
o impulso de seguir em frente e as lembranças que me fazem chorar baixinho...
a coisa do esquecer e não conseguir e, assim mesmo, não desistir...
a dor, as lágrimas, o espinho...
um tanto do imperdoável, do inaceitável...
recolher os cacos e os saltos dos sapatos quebrados no caminho...
recolher a raiva...

hoje duas doses me bastariam: 
uma de paciência
outra de vinho



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poeira do tempo

Poeira nas coisas, nos objetos, nas frestas
Poeira do tempo...
Tempo que segue, indiferente, seu curso.
Qual caminho sem volta
Não faz vir novamente o que foi
Não regressa quem não mais está.
Enredo guardado nas fotografias e nas lembranças.
Poeira escura me pôs em devaneio.
Quanto tempo levou para ela marcar aquele objeto?
Fez-me pensar na vida
Nas coisas velhas, nos objetos empoeirados,
Nos brinquedos da infância,
Na casa dos meus avós.
Nas poeiras finas da existência.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Minhas pretensões nunca foram literárias. Este espaço é quase religioso - um confessionário do que foi visto, vivido e sentido. Espaço partilhado com alguns (poucos) amigos. Lugar em que se deita um pouco da minha vida. Como a minha casa...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

porque há dias (muitos) em que não tenho nada a dizer. olhar para o mundo já é o bastante.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

No espelho

Ao debruçar-me sobre as coisas, percebo a necessidade premente de mergulhar em mim.
Na teia do viver, não há olhar para o outro que não nos apresente certo reflexo de nós.

sábado, 14 de abril de 2012

o teu abraço

não apenas teus braços
(seguros)
serão cura e
 aconchego
para meu desamparo

também teus pés
suportarão os meus
(doce leveza)
ao valsarmos
no compasso do tempo

sexta-feira, 13 de abril de 2012

compasso de espera

falta, lacuna, intervalo
...
reticências
hi a to

o não dito
(mal dito)

tudo paira
(entre parênteses)

espera (im)paciente
pela forma, 
pela rima,
pela música,
pela poesia
 que (só) brota
de tanto
amar

quinta-feira, 29 de março de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

o que sou

no meio dos risos tontos
(gostosos, de criança)
penso nos momentos únicos
pequenos e sublimes
que vivi com vocês...
enche meu coração de amor
(é possível caber mais?)
tudo de bom que cada um
desperta em mim...
me fazem lembrar
depois da aspereza dos dias,
que tudo passa,
que o tempo voa,
que a vida segue e
que a noite pode ser
mais leve...

domingo, 25 de março de 2012

Quase abril

Outono...
Dias claros sinceros
De brisa suave que espero,
Muito-bem-te-quero!

(chegou verão ao fim,
enfim!)

sábado, 24 de março de 2012

momento

é provável
que tenha ficado
meio           ins
                            tá
                                    vel
                                 

sexta-feira, 23 de março de 2012

pro fundo

Quando me senti sozinha e quis falar (pouco, apenas pouco) da tristeza que ia em mim, ouvi das pessoas que dizer sobre o que nos entristece soa deprimente e que sentir-se mal é desagradável aos olhos e ouvidos. Disseram-me que as palavras devem ser sempre leves, doces e, se possível, engraçadas. Ouvi que o desejável é ser sempre otimista, sempre parecer feliz. O desejável nem sempre se alcança. O que sabemos, por vezes, não é suficiente para o que somos e vivemos. Calei-me. Afastei-me. Tornei-me mais só do que já estava.

Sinto que algumas palavras precisam ser ditas para que possamos ouvi-las e entender o que há em nós. Não existem apenas palavras amenas. Não há somente sentimentos despreocupados, reconfortantes e, tampouco, apenas sensações alegres. Há o pesar, há a tristeza, há um pouco de tudo em nós. Procurei um ouvido atento a tamanha complexidade que ia em mim. Procurei uma voz. Gostaria de ser uma criatura mais simples, de sentimentos rasos. Não fui feita assim. Se me calo, transbordam palavras em meu corpo e escorrem pelos meus dedos...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Instantâneos

deixei passar o tempo
instante encerrado, um lamento

não esqueci do que queria
no vazio que se entrevia

segui a procurar, enfim
o que se perdeu de mim

quarta-feira, 14 de março de 2012

o que me falta

se sonho contigo
nas noites
ou se me pego
a olhar para a lua
(pensamento distante)
não é (apenas)
pela saudade tua
é pela falta doída
da minha vida
antes desta
ausência crua

terça-feira, 13 de março de 2012

Os chatos

A definição perfeita de Fabrício Carpinejar. Quem não conhece alguém assim, que atire a primeira pedra!

* O chato fala o que sente. De qualquer jeito. Nem escolhe o que fala. É preguiçoso. Não nos escuta e continua falando. Não se importa se estamos ouvindo ou não, quer falar. Qualquer coisa. Nada interrompe sua carência.

* O chato sempre diz que esqueceu de comentar alguma coisa. E nos prende até lembrar. E não era nada.

* O chato não conversa, dá palestra.

* O chato é um megalomaníaco sem importância.

* O chato é um vendedor sem produto.

* Além de não calar a boca, ele não nos permite ir embora, segura nosso ombro ou aperta o nosso braço.

* O chato sabe tudo, menos que é um chato.

* O chato força a tosse, o bocejo, o grito. Altamente inconveniente, é normal passar do ponto.

* O chato descreve suas dores, mas não toma nenhuma providência.

* O chato estraga o sagrado momento do café do trabalho, para pedir favor.

* O chato atrapalha querendo ajudar. O chato não oferece conselhos, mas impõe condições.

* O chato conta a mesma piada de novo, ri sozinho e ainda faz comentários de como aquilo é engraçado.

* O chato não sabe o que fazer do seu tempo, e usa o nosso.

* O chato é um bajulador do bem e do mal. Incapaz de fazer um elogio sincero ou até uma reclamação honesta.

* O chato é sua mãe no pior dia mais a sogra no seu pior dia mais as tias solteironas mais a professora de Religião.

* O chato está a um passo de ser nojento. Não provoca pena, mas raiva.

segunda-feira, 12 de março de 2012

O que fica contido

À sombra dos meus temores, as palavras contidas se misturaram em nuvens de tempestade que trovejam sobre mim. Acordam-me dos meus sonhos e me põem a ouvi-las de forma insistente no escuro das noites.
Quero aprender a dissipar as nuvens. Quero chuva sem raios, apenas para derramar sensações de consolo. Quero sonhar sem acordar com trovões. Quero mergulhar em mim sem medo dos pesadelos. Quero que as palavras contidas extravasem a conta gotas.

domingo, 11 de março de 2012

Água viva

em frente à janela
a piscina, azul sem fim
bem te vi pousa,
olha ao redor, arrisca-se
mergulha, enfim
água fria 
nele desperta
pequeno sorriso
em mim

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tecelã

pedaço de tempo que sobra,
um quarto de hora

em frente à tela branca
com tudo o que vai aqui dentro
emudeço


ficaram as palavras cravadas,
todas, 
alinhavadas, entrelaçadas
nas dobras da rotina


domingo, 22 de janeiro de 2012

Feliz aniversário

Passaremos o dia do seu aniversário distantes. Todos nós! Você aí longe, eu aqui sozinha, as crianças na casa dos avós.

Estranho celebrar a vida (mais um dia, mais um ano!) desta forma. Estranho viver tudo o que estamos vivendo sem se desesperar às vezes. Na verdade, é estranho viver isso.

Tento dizer para mim mesma que passará logo. Que a experiência nos tornará diferentes e, assim, um pouco melhores e resilientes. Que sairemos fortalecidos de tudo. Que mais tarde olharemos para esse momento e sentiremos que ele pareceu mais breve do que realmente foi.

Tento conter meu receio pelo desconhecido, pelo incontrolável, pelo porvir. Acredito que ele  - o medo - fica contido em meu peito e explode, por vezes, no meu estômago em dias de sensação de digestão interminável.

Mas não quero falar de receios no dia de hoje. Quero dizer apenas que, no dia de hoje, o meu desejo maior e mais profundo se refere ao que sinto por você e que se estende para nossa família - uma vida longa, plena de momentos felizes a ser vivida ao nosso lado.

Desejo, sobretudo, que essa experiência única que estamos vivendo se converta em sabedoria para nós e nossos filhos, sobre o valor do amor, a importância daqueles que amamos e dos momentos que partilhamos juntos.

Espero que o passar do tempo e dos anos possa lembrá-lo de viver atenta e apaixonadamente e a fazer escolhas que tornem seu presente e futuro dignos de serem rememorados. Lembre-se, também, de sentir-se grato pelos momentos vividos, aqueles felizes e aqueles que te ensinaram a ser quem você se tornou.

Se sentir-se frustrado e impotente diante das circunstâncias atuais, conte com a fé, muitas vezes esquecida, outras deixada de lado, subestimada. Que você possa olhar para dentro de si e encontrar o Poder do mistério da vida. Converse com ele: "Ouça-me... guia-me... ajuda-me".

Não se sobrecarregue com soluções impossíveis. Não se culpe pela distância momentânea. Não se desespere frente ao tempo que ainda virá. Seja paciente e bondoso consigo mesmo.

Sinta-se, principalmente, amado e abraçado no dia de hoje. Sinta a distância se converter em inúmeros pensamentos bons e desejos sinceros por você. Sinta-se acolhido e próximo. Sinta-se conosco. Seja feliz!
Feliz aniversário!