quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Drummond

"Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que eu não tenho tido tempo de chorar..."

domingo, 13 de novembro de 2011

Meu primeiro amor

Muito me ensinou meu primeiro amor.

Ensinou-me que amar é tarefa para uma vida
E que, mesmo quem ama, não está isento de cometer erros.
Que os erros que cometemos não são imperdoáveis.
E que o desejo do amor e do reconhecimento persistirá, não importa nossa idade.

Ensinou-me que devemos ser gratos para com os presentes da vida.
Corretos e justos com os que passam pelo caminho.
E tolerantes com as surpresas indesejáveis que se apresentam.

Ensinou-me a verdade, mesmo quando ela dói.
A persistir nos sonhos, mesmo quando os sentimos inalcançáveis.
Ensinou-me a ter compaixão e simplicidade.
Ensinou-me que a paciência é uma virtude a ser cultivada nos momentos mais urgentes.

Ensinou-me que o amor se multiplica e se distribui
E que é a maior herança que deixamos, inigualável.
Ensinou a amar meus filhos, a cuidar deles de corpo e alma
E a educá-los, mesmo quando discordei dos métodos adotados.

Ensinou-me a ficar calada quando as palavras não fazem sentido
E a falar, quando o silêncio se faz pesado a nossa volta.
Ensinou-me a rir das bobagens sem importância.
E a chorar, mesmo sob olhares de desaprovação e crítica.

Ensinou-me a andar de bicicleta.
A pregar botões e costurar pequenos defeitos nas roupas.
Ensinou-me a gostar de ler belos livros.
E a cozinhar os pratos que hoje preparo para os meus filhos.

Ensinou-me que um abraço é um recanto para o desespero
E que a distância é cruel, mas grande mestra.
Que a saudade chora a solidão dos pensamentos
E que, para crescermos, temos que contar, às vezes, apenas conosco mesmos.

Meu pai e minha mãe
Mestres e exemplos de muitas aprendizagens de minha vida
Que fizeram de mim grande parte do que sou...
Amo vocês!

sábado, 12 de novembro de 2011

Incansável mente

Inteligência não basta
Quando a mente trai
Descaradamente
O desejo incansável
Do coração.

É preciso mais!
Tem que haver sabedoria
(mas, aí, já é uma longa história...
tão longa quanto o tempo de uma vida!)

Apenas peço que não me julgues...
As palavras são bem vindas
Quando não apontam o dedo
Para os defeitos conhecidos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ansiedade

Além das marcas na pele 
O tempo traz um pouco de suavidade 
(alívio!).

Em outras eras,
Essa ansiedade 
Vestida de espessa nuvem
Seria, certamente, tempestade!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ensaio sobre o amor

"Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você..."

Não por acaso acordei com esta música na cabeça hoje. Não sou fã de Roberto Carlos e acho muitas de suas músicas piegas, mas às vezes, mesmo os autores de que não gostamos traduzem o que sentimos de forma exata.

Não é simples falar sobre o amor e todas as suas nuances, porque amor não é um sentimento único, exato e igualmente sentido por e para todos. O amor romântico é um sentimento que mistura admiração, desejo, cumplicidade. Que pede correspondência e, para os que se envolvem seriamente, construção do futuro, filhos, fidelidade. Os amores filial e fraternal também incluem admiração e cumplicidade, mas são recheados de ciúmes, de expectativas, de desejo de acolhimento e reconhecimento. 

O amor maternal só pode ser definido por quem o sentiu. É eterno e incondicional. Todas as dores de um filho são sentidas na carne por uma mãe ou um pai. A primeira vacina que tomou meu pequeno, quando bebê, fez verter lágrimas incontroláveis dos meus olhos. A dor causada por aquela minúscula agulha foi como uma faca empunhada em meu peito.

Amar não é tarefa fácil porque o amor não é um sentimento simples. É grandioso, mas nos apequena. É claro, mas nos confunde. É nobre, mas nos torna vulneráveis. É forte, mas, muitas vezes, nos sentimos enfraquecidos por sua força. Porque amar nos deixa com medo. Medo de perder o objeto do amor, medo de que a pessoa que amamos se machuque, medo de que a própria vida se encarregue de transformá-lo num fardo. 

Apesar da complexidade e das contradições que envolvem esse sentimento, não há como passar pela vida sem amar. E sem sentir-se amado. Talvez, seja a essência de estar no mundo e de estar entre as pessoas. 

Saber lidar com esse sentimento (e com tudo o que o envolve e o torna ainda menos simples) é tarefa para uma vida inteira. E situações que nos são indesejáveis, por vezes, nos fazem refletir profundamente sobre ele. A distância, em especial, coloca-o sempre na pauta do dia. A ausência nos faz perceber as coisas por perspectivas únicas. Afastar-se do objeto do amor significa não se deixar envolver apenas pelas pequenezas que nos invadem o dia, pelas perturbações que fazem parte da rotina, pelo despertador que nos acorda antes da hora, pelo cansaço que se acumula durante a semana, pela discussão na hora do almoço com o filho, pela preguiça em levantar do sofá nas tardes de domingo. Afastar-se, também, nos traz ansiedade e uma relação diferente com o tempo vivido e com o tempo futuro.

O tempo é a essência dos afastamentos. Amor sem presença, perde a força, torna-se ternura, sentimento mais sutil que o amor. Assim precisa ser para nos mantermos sãos, porque amar o vazio nos enlouqueceria. Afastar-se apenas por um tempo, entretanto, pode fazer brotar algumas sementes em nós. Pode servir para que aprendamos a lidar com o medo que a distância nos traz e que nos turva os olhos e nos entristece a alma. Serve, sobretudo, para aprendermos a tratar com sutileza as pequenas e grandes manifestações que envolvem o amor no dia a dia. Serve para programarmos o reencontro com carinho, eternizando-o em nós.

A razão de sobreviver à distância é sempre o reencontro. Contar os dias nos dedos, no calendário, na mudança das estações. Contar o tempo para novamente poder contar, um ao outro, as histórias da vida.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O peso das palavras

às vezes as palavras nos pesam quilos...

... e dizê-las nos tira um fardo



dos ombros,
do travesseiro, 
dos sonhos à noite,
dos pesadelos...

PS. Saber dizê-las é uma arte...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobre as crianças e suas "artes"

Crianças e suas artes.
Antes de ontem, no meio da tarde, fui surpreendida por um telefonema da orientadora da escola do meu filho mais velho:
- Ana, o João fez uma arte.
- O quê? O que aconteceu? - pensando em dentes quebrados e fraturas expostas.
- Bem, ele e o Bruno (seu grande amigo) resolveram colocar um grão de milho no ouvido, no caso, no ouvido do Bruno.
- Não acredito!
- Sim, a mãe do Bruno já veio pegá-lo para levá-lo ao médico e o João está aqui, aos prantos, porque acha que vai ser expulso da escola.
- Ai, ai, ai!
- Já acalmei-o, mas agora ele está preocupado com o Bruno.
- Bem... Vou buscá-lo!

No carro:
- João Pedro, por que vocês fizeram isso?
- ...
- Conte-me, meu filho!
- Um dia, o Lui não estava um pouco resfriado e, por causa disso, teve dor de ouvido?
- Sim.
- E quando você coloca aquele remédio no meu nariz, eu não sinto o gosto dele na boca?
- Sim.
- E quando o Lui teve aquela sinusite, que virou conjuntivite e saiu um pouco de melequinha pelo olho dele?
- Sim, o que tem tudo isso?
- Então não está tudo meio junto, nariz, boca e ouvido?
- De certa forma.
- Então, fizemos uma experiência científica! Colocamos um grão de milho no ouvido do Bruno para ver se caía na boca!
- Então foi isso?
- Sim... mas só descobrimos que deu errado, depois que o milho já estava lá...
- Ai...

Seguiu-se a esse diálogo uma aula de ciências e outra sobre os perigos de se colocar coisas no nariz e no ouvido. Perguntas feitas, explicações detalhadas, telefonemas para a mãe do Bruno, tudo certo, tudo entendido.

No outro dia, na chegada da escola, ambos se encontraram no portão de entrada.
Bruno grita:
- João... tiraram a espiga do meu ouvido!
João Pedro responde:
- Era só um grão, Bruno. Você acha que caberia uma espiga?
Risos.

Ainda bem que não cabe.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Enquanto

 Há dias bons, outros não tanto. Momentos em que somos fortes; em outros, ataranto.
 Há as horas da paciência, da quietude da alma, dos risos e do descanso. Outras, de entretanto.
 Há horas de pranto, outras de encanto.
 Há a vida que caminha inesperada e nos ensina a esperar.
 Há o tempo que precisa passar.
 Há mais um tanto para viver. 
 Há sempre um enquanto.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre o tempo

Não é preciso se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta, voltam as pessoas! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é para ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde.


Mas, já não temos mais idade para, drasticamente, usarmos palavras grandiloquentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, aos poucos, fomos aprendendo sobre a continuidade da vida. Já não cometemos gestos tresloucados. Contidamente, continuamos.

E substituímos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”.

É o nosso jeito de continuar, o mais eficiente, o que não implica em decisões, apenas em paciência. (adaptado de Caio F. Abreu)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Os outros

Encontrei-a muito tempo depois, nas redes sociais que frequentamos ultimamente. Adicionei-a, quis conversar com ela. Eu, preocupada e assustada com uma nova situação em minha vida. Ela, agradecida e orgulhosa por ter vivido situação semelhante.

Fiquei pensando na maravilha de manter o contato com quem está distante, mas, sobretudo, nas diferentes formas de viver e encarar a vida e o quanto aprendemos com essas diferenças. Não sou uma pessoa deprimida, não me entrego, não fico paralisada. Mas estou longe de ser a mais otimista das criaturas. Sou, como costumo dizer, realista e olho sempre os dois lados das situações. Sou ansiosa e, algumas vezes, essa ansiedade me domina. Vivo as situações por inteiro e sofro, muitas vezes, com elas. Sozinha, à noite, no escuro. Não choro em público.

Descobri, também, que o passar do tempo tem me feito medrosa. Avistar um vale ao lado da montanha não me remete à beleza da paisagem, mas ao perigo ela representa. Andar de teleférico me dá calafrios. No avião, respiro fundo para não sentir uma pontada de pânico, para não deixar o medo me dominar.

Fiquei pensando nesse medo. Fiquei pensando nos desafios. Fiquei pensando na vida. Não cheguei à nenhuma conclusão, fora o fato de que algumas virtudes necessitam de exercício. Identifico, muitas vezes nos outros, o que preciso e suo para chegar perto do que considero ideal (ai, os perfeccionistas...). Os outros são meus espelhos, de defeitos e qualidades, e sou uma exímia observadora de falas, modos e gestos. Muitas vezes, na dúvida, procuro em outros rostos um modo de agir.

Muito obrigada a todos os que, anonimamente, me fazem olhar para mim mesma de outro modo. E também, anonimamente à minha amiga, por me fazer perceber que é preciso olhar a vida com outras lentes. Tentarei, nesta semana, no escuro do quarto, apenas dormir...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Rio de Janeiro

Depois de ter morado por algum tempo, já fazia quase 10 anos que eu não voltava ao Rio. Voltamos, eu, marido e filhos, os primeiros para rever e outros dois para conhecer.

Os pequenos adoraram. Fizemos todos os passeios caros e turísticos que merecem aqueles que chegam à cidade pela primeira vez.

Para os maiores, muitas sensações. O belo lugar que nos convida a apreciar a natureza também contrasta com particularidades desagradáveis que encontradas não apenas, mas principalmente lá: mulheres que se vestem como prostitutas, malandros que cobram absurdos dos carros estacionados na rua, trânsito infernal, músicas de gosto duvido, pessoas que falam alto, muito alto!

Isto me remeteu aos tempos em que vivi no Rio: recheado de lembranças e de pessoas queridas e também repleto de situações a serem eternizadas no esquecimento. Estranhezas da vida, os dois lados da mesma moeda.

Fiquei pensando se voltaria a morar na cidade maravilhosa. Apenas em uma situação muito especial: se eu vivesse perto da praia, a apenas 2 minutos a pé do meu trabalho.

É pedir muito? Não sei. Mas não vou pedir. Primeiro, porque não é meu desejo. Segundo, porque grandes programações resultam em frustrações, se não se concretizam. Aprendi que a vida trilha seu próprio caminho, embora tenhamos que ficar atentos às  placas no curso da estrada. 

Para chegar ao Rio a estrada é longa, sinuosa, cheia de pedágios, curvas, subidas e descidas. Engarrafada. Por enquanto, sigo por outros rumos, vou em outras direções, aprecio novas paisagens.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Corpo Perfeito

Sempre fui cismada com cuidados com o corpo. Nada excessivo. Saio da linha vez ou outra sem culpas e arrependimentos. Mas mantenho uma rotina que me permite isso, sem pagar por alguns excessos: exercícios físicos, boa alimentação, boas noites de sono, alguns cremes para cá, outros para lá...

Cismada como sou,  às vezes me vejo comprando revistas femininas que oferecem dicas de saúde e beleza. Nesta semana, resolvi folhear algumas das que ainda tenho em casa  e anotar algumas ideias que aparecem em suas páginas. Eis algumas delas:

- Massagem em casa acaba com a celulite (milagres acontecem).

- Atriz revela segredos de corpo perfeito: 2 horas de musculação por dia, mais uma hora de caminhada diária, três aulas de pilates por semana e yoga todas as manhãs (essa pessoa trabalha?).

- Nossa leitora revela seu programa de alimentação para ter um corpaço: nem um grão de sal e açúcar na sua dieta (isso é vida?).

- Superalimentos que prolongam a vida, previnem o câncer e mantém a juventude:  goji berries, erva de trigo, spirulina, clorela e cacau cru (hã?).

- Tenha um corpo de sereia comendo macarrão integral sem sal e molho, com gotas de limão (um 38, por favor).

- Para não ter barriga, coma feijão e mexirica (junto ou separado?).

- Demi Moore revela sua dieta para desintoxicar: quatro dias a base de limão e água (e uma caixa de Lexotan).

- Coma pimenta para ativar o seu metabolismo (e a sua gastrite).

- Tome água morna com sal ao acordar e sinta-se renovado (um verdadeiro banho de mar com direito a tombo).



segunda-feira, 8 de agosto de 2011

De como os professores de literatura pervertem seus alunos

Devo ser um leitor muito ingênuo, porque nunca pensei que os romancistas quisessem dizer mais do que dizem. Quando Franz Kafka conta que Gregor Samsa apareceu certa manhã transformado em um inseto gigantesco, não me parece que isto seja símbolo de algo e a única coisa que sempre me intrigou é a que espécie de animal ele pertencia. Acho que houve, na realidade, um tempo em que os tapetes voavam e que havia gênios prisioneiros dentro das garrafas. Acho que o burro de Balã falou - como diz a Bíblia - e a única coisa que é preciso lamentar é não ter gravada a sua voz, e acho que Josué derrubou as muralhas de Jericó com o poder de suas trombetas, e a única coisa lamentável é que ninguém tem transcrita a música capaz da demolição. Acho, enfim, que Vidriera - de Cervantes - realmente era de vidro, como ele dizia em sua loucura, e acredito mesmo na jubilosa verdade de que Gargantua urinava torrencialmente sobre as catedrais de Paris. (G.G.Márquez)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Calmaria

Acontece... Às vezes, simplesmente, estou sem inspiração. Nada me vem à cabeça e não quero pensar em nada. Nem mesmo em algum assunto para escrever aqui. Fico com uma sensação latente de que, se algo me vier à mente e eu começar a dar corpo a essa ideia... touché! Vou ficar caraminholando, insone, pensando em coisas esdrúxulas, ao invés de curtir minha cama king size e meu travesseiro anti alérgico. É isso! Às vezes é melhor ficar quieta.

Nessa coisa de ficar calma e manter a mente longe dos tumultos cotidianos, me veio a ideia de fazer ioga e aprender a meditar. Justo eu, que não consigo ficar parada e sou capaz de fazer cinco coisas ao mesmo tempo. Eu, que trabalho o dia inteiro e tenho dois filhos para cuidar. Euzinha, que  acordo às 5 da manhã para ir à academia porque não tenho outro horário para manter a forma. Justo eu, que, vez ou outra, bato ponto aos sábados para trabalhar, ou fico além do horário fazendo serão.

Ideia de jerico. Cheguei à conclusão que o melhor seria fazer meditação em casa mesmo, antes de dormir. Acontece que a exaustão é tanta, que a meditação acaba durando umas 8 horas... Achei que poderia, então, fazê-la depois do almoço. Dois problemas a resolver: primeiro, barriga cheia, dá sono. Segundo, se não fico com sono, fico pensando na agenda da tarde. E quanto mais tento afastar os pensamentos que atrapalham a meditação, mais me irrito. Passo longe da calma desejada.

Li em uma revista que as pessoas que meditam pelo menos por 30 minutos por dia têm ganhos cognitivos e físicos comprovados. São mais concentradas, demonstram memória mais aguçada e mantêm até mesmo o ritmo cardíaco sob controle. A reportagem falava também das várias linhas meditativas e dava dicas das técnicas para conseguir fazê-las.

Interessante. Fiquei bastante curiosa. Mas acho que vou dormir. Boa noite!

sábado, 16 de julho de 2011

Coisas de crianças

Quem tem filhos sabe que eles são mestres em fazer-nos passar vexame. Uma palavra inadequada, um comentário indiscreto, uma pergunta desafiadora, tudo em alto e bom tom e sempre na frente da torcida do Flamengo.

Como tenho estado bastante sozinha com os meus - meu marido tem viajado muito a trabalho - acabo levando-os para todos os lugares aonde vou. Supermercados, farmácias, padarias, hortifrutis...  Se a empregada já foi embora ou se é final de semana, não há escolha: mesmo sob protestos, não posso deixá-los sozinhos, pois ainda são pequenos.

Era um domingo e eu precisava comprar frutas e verduras.Chamei-os.
- Vamos com a mamãe ao mercado, comprar umas frutas bem gostosas para comermos depois do almoço e do jantar e amanhã...
- Obaaaaa! gritou o mais novo, que facilmente se rende a esses apelos.
O mais velho nem se mexeu. Estava "ocupadíssimo", jogando videogame e nem deve ter me escutado.
- Vamos, meu amor, preciso sair ainda antes do almoço.
- AAAAAAH! Mas eu quero jogar...
- Você joga quando voltarmos.
- Mas... precisa ser agora?
- Sim, precisa. Vamos, você tem muito tempo hoje para isso.
Cara de totalmente contrariado.
- Vamos, assim você escolhe algo gostoso para seu lanche da escola.
Contrariedade levemente atenuada.

Fomos os três e rapidamente compramos o que precisávamos. E o que não precisávamos também: blueberries caríssimas para eu fazer muffins cheios de "coisas roxas no meio"; jabuticabas, porque "elas são muito fofas" e uma caixa de bombons, porque " eu quero e meu irmão já escolheu muita coisa".

Tudo no carrinho, a pior parte da história: os caixas lotados. Filas intermináveis. Ficamos, enquanto aguardávamos, conversando e olhando todas as coisas que ficam expostas perto da saída: revistas, esmaltes, escovas de dentes, aparelhos de barbear, balas e chocolates. De repente, um grito, no meio de todo mundo:
- MAMÃE O QUE É IMPOTÊNCIA?
Hã? O quê? Onde está escrito isto? Meu filho, do outro lado, em frente ao local onde os cigarros são vendidos, esperava uma resposta. Fiquei roxa de constrangimento e, enquanto todos me olhavam, eu o trouxe para perto e perguntei por que ele havia gritado aquilo.
- É que está escrito ali ó: O Mi-nis-té-rio da Saúde a-d-ver-te: Cigarro causa impotência.

Expliquei para os dois que a palavra designa o estado de uma pessoa meio "down", meio "fraquinha". Eles se contentaram com a explicação e me perguntaram mais 468.392 coisas sobre os malefícios do hábito de fumar. Depois de uma explicação que durou o tempo da fila e de eles olharem TODAS as propagandas advertindo sobre o risco do fumo (fetos mortos, cadáveres, peles enrugadas e outros horrores), me perguntaram por fim:
- E por que, então, tem gente que fuma, se cigarro faz tão mal?

Aí é que a coisa ficou complicada de explicar. E de entender. Só posso chegar à conclusão de que as crianças, algumas vezes, são mais espertas do que os adultos sabichões. E menos complicadas. Se isto, então aquilo, sem rodeios e coisas complexas. As razões são simples e as respostas diretas. Além disso, dão nó em pingo d'água facilmente.

Os meus, pelo menos, dão. E escondem as pontas.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Coisas de mulher

Toda mulher gosta de ir ao cabeleireiro. Fazer unhas, escova, depilação, mechas. Cortar as madeixas. Compromisso semanal consigo e com a atualização de dados sobre a vida alheia. Como resistir?

Resigno-me a achar que sou diferente da maioria. Odeio salões de beleza, fofocas sobre as frequentadoras, leituras de revistas Caras. Faço eu mesma minhas unhas com perfeição, sei me maquiar direitinho, meu cabelo dispensa escovas, alisamentos, chapinhas e afins. Um cortezinho a cada 3 meses. Uma ballayage para "iluminar os fios" no mesmo intervalo.

Ontem foi dia de voltar ao cabeleireiro. Refazer as mechas, conversar um pouco sobre a última vez em que estive lá e não gostei do resultado. Expliquei o que aconteceu, do que não gostei e do que gosto. Ele me ouviu atentamente, enquanto analisava meu cabelo. Depois falou:
- Vamos fazer algo diferente!
- Mas eu não gosto de nada diferente. Tradicional é meu sobrenome!
- Confie em mim, ficará ótimo, você vai ver. E o resultado será o que você deseja.

Confiei no dito cujo. Entendo um pouco de cuidados com corpo e cabelo, mas a minha profissão é outra. Deixar com quem sabe é sempre a melhor pedida. Sempre?

Depois de quase três horas sentada lendo Caras, Contigo e acompanhando alguns pedaços de dois filmes sonolentos que passavam na TV da sala de espera, eis o resultado: vontade de chorar, de matar o "sabidão" e de sair sem pagar. Ai, minha fina educação que me puxa as orelhas e me cala a boca quando sobe pelo corpo o desejo de um barraco digno de novela das oito (ou nove, ou onze, sei lá!). Conversei educadamente com o cabeleireiro, expliquei o que não gostei, ele explicou o que foi feito, retruquei sobre as nuances de cor, ele respondeu, me dando detalhes sobre o porquê do procedimento adotado e me garantiu que era isso que deveria ser feito. E que, na próxima vez, será possível fazer do meu jeito, agora não, por causa disso, daquilo, daquele outro e mais outro. Ok, entendido, aceito, conversado, pago, sorrisos de despedida, beijinhos e um inevitável: "Daqui a um mês tô aqui de novo para você consertar isso". Essa merda, pensei! Mas não falei. Não sai mesmo. Nota dez para meus pais, pelo empenho na minha educação. Nem a Sorbonne faz tão bem feito. Vou fazer igual com meus filhos.

Cheguei em casa e não podia passar por um espelho que já estava eu olhando o resultado, tentando me convencer de que "não estava tão ruim assim" e de que "ele fez o que podia ser feito". Acordei no meio da noite, de um sonho em que meu cabelo era cor de laranja e o cabeleireiro me dizia que estava MA.RA.VI.LHO.SO! Pulei da cama e fui beber água.

Hoje de manhã, assistindo ao Bom Dia Brasil, o técnico da seleção uruguaia de futebol deu uma declaração interessante. Disse ele: "Se você tem um problema que tem uma solução, por que se preocupa? E se ele não tem solução, por que se preocupa também?". Ok, recado dado, tudo entendido. Meu problema TEM solução (espero!) e tenho que parar de pensar nisso.

Cheguei ao trabalho e todo mundo elogiou.
- Menina, seu cabelo está lindo!
- Você está muito chique!
- Que cabeleireiro é esse? Muito bom...

Resolvi me tranquilizar. Talvez eu tenha exagerado na dose e na reação. Vou ficar "na boa" e acreditar na crítica alheia - realmente ficou muito bom, só que diferente do que eu queria. No próximo mês eu volto lá e corrigimos qualquer defeito. Até lá vou ficar tranquila, esquecer esse assunto e parar de me olhar no espelho a cada 10 minutos. Vou aceitar e me acalmar. Não vou ficar pensando que o cabeleireiro poderia ter feito diferente, tentado outra coisa, arriscado outra cor, corrigido na hora em que falei que não gostei...

Que ódio!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De quando fomos outros

Quando fomos crianças, conhecemos várias pessoas na escola. Tornamo-nos amigos de alguns, inimigos eternos de outros; nos entendemos, desentendemos, reatamos, nunca mais nos falamos. Lembramos de muitos pelo rosto, gestos, graças feitas. De outros, pelo nome, dito diariamente nas listas de chamada. De alguns, entretanto, nenhuma memória, semblante ou alcunha.


Brigamos com colegas por razões que esquecemos. No ano seguinte já não nos lembrávamos. Pequenas coisas, palavras mal-ditas, amigos roubados, livros não-devolvidos, passeios esquecidos.  Bons tempos vividos, bobagens partilhadas. Coisas da infância.


Com a adolescência, vieram os namoricos, os novos amigos, os desentendimentos dobrados. O namorado "roubado", a namorada que nunca foi, o amigo que já era! As idas e vindas de momentos intensos, que acreditávamos duradouros, eternos... Tão furtivos quanto as provas mensais de matemática - todas tiveram o mesmo destino: o lixo. Nunca conseguirei me lembrar de uma questão sequer!  Momentos que passaram, sempre passam, devem passar. Faz parte do crescer, amadurecer, tornar-se adulto: deixar para lá o que deixa de ter importância.


Interessante esse mundo em que vivemos: podemos, nele, reecontrar virtualmente vários colegas de escola,  já adultos. Além das rugas, da barriguinha, dos cabelos brancos, também somos mais maduros (devo acreditar que somos!). A adolescência passou, que bom. Essa é a melhor parte dela, ela passa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Razões para amar um careca


 (Extraído de carpinejar.blogspot.com. Vale a pena ler esse cronista do Jornal Zero Hora)

1. Não é que o careca é careca, ele tem mais rosto. É somente rosto. Sua mulher nunca erra um beijo em sua face. Atrás da cabeça ainda é bochecha. Não há aquele risco desagradável de engolir cabelo.

2. O careca é um ponto de referência em qualquer lugar público. No supermercado, por exemplo:
- Onde é o corredor do arroz?
- Depois daquele careca, à esquerda.

3. O homem larga a pose alfa, tem um maior contato com a natureza, arrepia-se com as gotas da chuva ou as lufadas geladas do vento.

4. A careca é uma zona erógena e pode ser aplicada como instrumento preciso para massagens eróticas nas costas da mulher. Trata-se de uma plataforma vibratória, com funções aeróbica, anaeróbica e terapêutica.

5. Fim dos furtos dentro de casa. O xampu e o condicionador da esposa duram o dobro de tempo.

6. O macho deixa de ser hipócrita, não perguntará para a mulher de quem são os cabelos no ralo ou na pia. Com o fim da concorrência, agora tem certeza que são dela.

7. Não corre o risco de se afeminar com o uso excessivo do secador.

8. Na pressa, não precisa tomar banho, apenas completar o polimento.

9. O careca não passará pelos vexames sociais da caspa ou do piolho.

10. Nunca envergonhará sua companhia pintando os cabelos de acaju ou recorrendo às luzes.

11. Reduz as possibilidades de câncer de pele. Começa a pôr protetor solar para sair ao trabalho, não se restringindo a se prevenir da radiação ultravioleta nas férias.

12. Não é bobo de gastar R$ 50 mil como Eike Batista para comprar uma peruca italiana. Não é bobo de virar sósia de Silvio Santos com peruca de R$ 50.

13. O careca é maduro, confiável, único homem que realmente abandonou a adolescência.

14. Ninguém reclamará que ele é vaidoso e que vive se olhando no espelho para ajeitar o topete.

15. Se cometer algum crime, pode mudar de personalidade colocando um chapéu, uma boina ou um boné.

16. O careca não enrola, assume o romance. É tudo ou nada. Não admite meio-termo: implante, aplique, calendário pilomax. Prefere uma cabeça raspada a falsas esperanças.

17. Rejuvenesce no ato. Aparenta cinco anos menos do que os seus colegas grisalhos ou de mechas tingidas.

18. Não existe mais nenhum problema que possa fazer o careca perder cabelo.

19. Elas gostam dos carecas porque os carecas se gostam.

20. Todo careca sabe quem foi Yul Brynner.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pingos nos is

Interessante perceber
Que uns pingos nos is
Mesmo com a página virada
Encerram, outra vez, a história
Tornam os personagens mais humanos
Nova leitura do texto, palatável.

Volto, pela última vez, o livro para a estante.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre o tempo e a ternura


(extraído de carpinejar.blogspot.com)

Viver tem sido adiantar o serviço do dia seguinte. No domingo, já estamos na segunda, na terça já estamos na quarta e sempre um dia a mais do dia que deveríamos viver. Pelo excesso de antecedência, vamos morrer um mês antes.

Está na hora de encarar a folha branca da agenda e não escrever. O costume é marcar o compromisso e depois adiar, que não deixa de ser uma maneira de ainda cumpri-lo.

Tempo é ternura.

Perder tempo é a maior demonstração de afeto. A maior gentileza. Sair daquele aproveitamento máximo de tarefas. Ler um livro para o filho pequeno dormir. Arrumar as gavetas da escrivaninha de sua mulher quando poderia estar fazendo suas coisas. Consertar os aparelhos da cozinha, trocar as pilhas do controle remoto. Preparar um assado de 40 minutos. Usar pratos desnecessários, não economizar esforço, não simplificar, não poupar trabalho, desperdiçar simpatia.

Levar uma manhã para alinhar os quadros, uma tarde para passar um paninho nas capas dos livros e lembrar as obras que você ainda não leu. Experimentar roupas antigas e não colocar nenhuma fora. Produzir sentido da absoluta falta de lógica.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Defeitos

Quis olhar seus próprios defeitos
Com a compreensão e a tolerância
De quem sabe que o conhecimento das coisas
Só vem com o tempo e a vida vividos...
Acreditava que fazemos tão somente
O que somos capazes no momento
Nem mais, nem menos.

Nosso olhar para o mundo é sempre por hora...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Alma inquieta
Grita palavras amedrontadas
Especialmente
Quando queremos manter a mente
Em silêncio...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

desejo sem rima

por querer ser feliz
todo dia, com razão,
vivo a procurar motivos
e se não os acho, os invento

às vezes com sucesso,
outras apenas com empenho,
algumas com preguiça,
outras com um pouco de descrença

sigo tentando
procurando
persistindo
porque para a seriedade
nem sempre a brincadeira
e o riso fácil
estão na contramão

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Cora Coralina

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.

terça-feira, 10 de maio de 2011

distante

em toda despedida
me sinto dispersa
me vejo perdida

não desejei assim
nessa medida

nem encontrei
a palavra devida

segunda-feira, 2 de maio de 2011

muitas ideias

deixo o espaço do papel em branco
sem conseguir escrever

a quantidade de palavras
em pensamentos
em medos
em sonhos
em espantos
é interminável

Mas como haver enredo?
São muitas as palavras
nada de lógica
nenhuma vírgula
sequer um ponto final

quarta-feira, 27 de abril de 2011

trama

há, em todas as coisas,
uma lógica subjacente
que foge ao nosso entendimento...
a vida é feita por tramas
entrelaçadas
em tão perfeita composição
que não nos cabe buscar, 
dos fatos,
uma razão...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

decidir

quem precisa de razões 
e justificativas próprias
para fazer o que deve ser feito
 e
para se colocar 
de determinado lado,

 
é porque ainda não aprendeu
a distinguir
 o certo do errado.

sábado, 9 de abril de 2011

Um tempo



Um tempo...
Um momento...
Lento, sonolento...
Não corro, não penso,
Não tento...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cena

olhos que veem a mesma cena,
e enxergam enredos distintos
para os primeiros,
não passa de uma história
simples contada em
cenografia tosca

para os outros,
uma história única
sob um pano de fundo
singelo

domingo, 3 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

desabafo

porque há momentos
em que falar
é desabafar

e ser ouvido
não é suficiente
por hora

não cura as feridas
não sossega a mente
não melhora...

quarta-feira, 30 de março de 2011

angústia

às vezes tenho medo
de coisas que nem sei
tenho medo de, vivendo,
acordar de sobressalto
por algo que não entendo...

(porque a vida é tão bela
quanto estranha e nos causa
espanto tudo o que nela existe
e para o qual não temos explicação)


pelos caminhos que andamos...
sozinhos estamos?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Por trás da frieza
sutil
do dia monótono...
esconde-se o desejo
febril
da noite de sono...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia


Que falte o tempo
Falte o gesto
O papel, a vontade.

Só não falte a rima
E a sensibilidade.

terça-feira, 22 de março de 2011

Deixo transbordar o desejo
Procuro idéias e rimas
Vasculho fatos
Invento coisas
Puxo pela memória




Transformo-me em palavras
Metamorfoseio...
Sou história...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lua cheia

Quando a lua está cheia
E a sensibilidade cresce
Tal qual o satélite em mim

Perco noites de sono
Sonhando acordada com palavras...

Muitas, entrelaçadas...
Como num carrossel sem fim...

sexta-feira, 18 de março de 2011

sobre o hoje e o amanhã

É necessário

que se aproveite o dia e se viva a vida
focado no agora, sem a ansiedade
do amanhã presente na rotina...

mas tenho uma dúvida:
quando esta semana termina?

terça-feira, 15 de março de 2011

feliz

fazer o que se quer
sem sequer a preocupação
da perfeição

(embora um dia perfeito
não seja dia sem defeito)

segunda-feira, 14 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

sem tempo

Não encontro tempo
Para devanear
Numa vida acelerada.
É como se o tempo, sem morada
Ficasse preso, engarrafado
Na subida da estrada.

quinta-feira, 10 de março de 2011

meio sem jeito

qual frase de efeito
um verso perfeito
qualquer grande feito
para esquecer
seus defeitos...

quarta-feira, 9 de março de 2011

para sobreviver

é necessário, por vezes,
espairecer...
beber um pouco
falar bobagens
rir um tanto
dar a conhecer
seu lado B...

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia da mulher


Dignas de admiração, todas as que fazem expediente de três turnos, estudam, trabalham, cuidam dos filhos, dos maridos, administram a casa, ensinam a empregada, educam as crianças, mantém a louça limpa, a cama arrumada, o armário impecável (mesmo tendo empregada), economizam com bobagens necessárias, programam as férias da família, ficam atentas ao orçamento doméstico, calibram os pneus do carro (sozinhas), cozinham deliciosos pratos (mesmo que simples), costuram as meias furadas e as calças rasgadas, pensam os lanches diários, trocam fraldas, preparam mamadeiras, acordam no meio da noite com os pequenos tossindo, leem livros (às vezes não tão interessantes), assinam revistas, escovam cabelos e dentes (próprios e alheios), não faltam à academia (mesmo quando falta energia), preocupam-se com o futuro... todas sem as quais nossas vidas não seriam admiráveis... A elas, a todas nós, 365 dias de felicitações (mesmo sendo 365 dias de trabalho)!...

segunda-feira, 7 de março de 2011

in exato


às vezes preciso
parar de pensar
para as coisas
fazerem sentido.

preciso
aceitar o
impreciso.

domingo, 6 de março de 2011

De quando fomos pequenos


Gostava de bicicleta e lembra quando aprendeu a andar em apenas duas rodas, sem apoio. Gostava do sol e dos dias de verão. Do clube, nos fins de semana e da praia, nas férias. Dos pastéis, comprados quentes na feira. Dos sorvetes de palito da padaria. Das idas à pizzaria com frequência. Dos passeios ao shopping, apenas para um lanchinho. Das idas a São Paulo para visitar os parentes. Das sopas feitas pela mãe em dias frios, à noite. Das viagens a Campos do Jordão, em julho.
De brincar com uma grande lousa, escrevendo tudo o que aprendia na escola. De brincar de super heróis, com as irmãs, no jardim de casa. De andar atrás do gato (apesar da terrível alergia que isso lhe custava). De contar piadas bobas. De assistir a Fantástica Fábrica de Chocolate todos os finais de ano. De ler Agatha Christie, um pouco mais velha, em dias chuvosos.
Gostava do Natal e de dormir tarde no réveillon. De ter trinta dias de férias no meio do ano. Gostava de quando suas primas iam dormir em sua casa e de quando podiam adiar o sono por conta disto. De ir à escola e do intervalo com as amigas. Das bonecas e das arrumações para brincar de casinha. De ver seu avô dando corda no relógio cuco. De ouvir sua mãe contar histórias de sua infância e das orações, feitas todas as noites antes de dormir. Dos bolos de laranja de sua avó e de sua antiga geladeira Frigidaire. De ir ao cinema, assistir os Trapalhões. De dançar no teatro, nos finais de ano, o que ensaiara nas aulas de ballet. De jogar Atari na casa dos primos. Dos bifes cortados em pequenos pedaços pelo seu pai. Das brincadeiras de esconde-esconde com uma grande turma na rua. Dos passeios em família.

Os anos passam e muitas coisas ficam no passado: os parentes que morreram, as pessoas que não mais encontramos, os lugares aonde nunca mais estivemos. Tudo, entretanto, permanece na memória. Pequenas coisas, singelas histórias, estranhas lembranças. Um pouco do que temos, muito do que somos. O que seremos para os nossos filhos e em tudo o que ficará depois de nós.

sábado, 5 de março de 2011

Re-edição

Na ânsia de acertar todas
Erramos muitas
Arrependemo-nos de várias
Perdemos algumas.

Entre desejos e inquietações,
Perdoar a si mesmo é preciso
Repensar os caminhos, necessário
Reinventar a forma, obrigatório.

Escrever novamente a história.

Publicar a vida em várias versões.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Chuva incessante


Quando chove sem trégua
Como há quatro dias, sem pausa
Nos sentimos enamorados pelo sol
E esquecemos, por momentos
(longos?... pequenos?)
Do desagrado que trazem o calor e o suor.
Não deixamos de nos queixar,
Apenas mudamos o objeto da queixa
(do sol para a chuva).
A ausência muda a forma de pensar sobre as coisas.
A saudade nos invade sempre cheia de desejos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Eufórico

Acho que é verdade incontestável, embora não pareça óbvia: a euforia está sempre mais próxima da melancolia do que do contentamento. Fantasia por sobre o permanente e imutável. Alegoria de desejos desconhecidos ou indesejados mal disfarçada em risos fáceis.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval


O que mais gosto no Carnaval é a possibilidade de ficar distante dele. Física e mentalmente falando. Quando dizem que o Brasil é o país do samba ou quando vejo uma manifestação brasileira no exterior cheia de passistas, me frustro. Não tenho nenhuma ligação com isso. Simplesmente não aprecio.
Quando morei no Rio, adorava a época do Carnaval. Todo mundo ia aos bailes, aos blocos, à avenida. Saiam à noite, dançavam muito, bebiam excessivamente e, provavelmente, dormiam durante o dia. A praia e a cidade ficavam numa tranquilidade que não se via em dias normais de trabalho. Nem em fins de semana de sol. Gostava de ir à praia caminhando e apreciar a pouca vizinhança na areia. Gostava de andar pelo calçadão, com a certeza do descanso do feriado. Nada de bailes. Nada de samba. Nenhuma fantasia.
Houve um tempo em que era gostoso juntar a turma e ir ao clube nesses dias. Não pela música e, sim, pela possibilidade de brincar e festejar em um grupo de amigos. Beber um pouco, dançar bastante, sair da linha, dar muitas risadas, ser feliz de madrugada! Acho que eu ainda toparia uma boa festa com uma turma divertida por uma noite. Mas, apenas uma noite. Depois, o merecido descanso do feriado, o silêncio da distância dos ritmos, um pouco do sol e um banho de piscina... parem a percussão, que se cale a bateria e cessem os tamborins, por favor, obrigada!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Fim de semana


Um brinde à possibilidade de fazer nada no fim de semana - sentar em frente à TV, comer bolo e tomar café no meio da tarde, jogar conversa fora, passear com o marido e os filhos, deitar com a certeza de não ser acordada pelo despertador no dia seguinte.
Pelo menos por dois dias, olhar pouco para o relógio, fazer pouco por obrigação, andar pouco em ritmo apressado. Guardar um momento para assistir um filme, sair para um almoço simples e tranquilo, andar pelo sol.
Pensar em nada... pensar em quase nada... pensar em muito pouco.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Barata


De onde vêm as baratas? Como uma criatura nojenta e desagradável daquelas aparece na porta do quarto cheirando a limpo, ar condicionado ligado, às nove da noite? Onde habitam esses seres tão repugnantes? Que caminhos fazem para que apareçam desta forma?
Lembrei-me de um sonho que tive: encontrava um escorpião atrás de uma almofada sobre a qual eu iria recostar. Acordei assustada, procurando algum bicho peçonhento escondido no quarto.
Parece que temos sempre alguns monstros ou pequenos seres estranhos guardados em algum canto de nós, que teimam em aparecer sem aviso, em horas estranhas e inoportunas. Lógico, estranhos dificilmente são bem vindos.
A barata, eu matei. Não tenho medo. Inseticida em uma mão, chinelo na outra, não há chance para ela. O escorpião, nunca mais sonhei. Matei o sonho (pesadelo?).
De alguns monstros conseguimos nos livrar. Com outros temos que conviver, aos tropeços, por longos tempos. Fazem parte de nós. Fazem parte do que somos, mesmo que sejam vistos apenas por nós mesmo.
Não sei se é possível matá-los todos. Mas podemos deixar de alimentá-los pouco a pouco, para que padeçam a míngua, sem força de se mostrarem.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ir e vir


Uma hora inteira para ir... 45 minutos para voltar
40 km em cada trecho... 160 km percorridos por dia
(sim, duas idas e duas voltas!).
Quase quatro horas dentro do carro
Diariamente...
Irritação, desagrado.
Duas saídas: mudar de emprego ou de casa.
Optei por uma terceira via: mudei de cidade.
Minha atual preocupação:
Encontrar os dois únicos semáforos do caminho fechados
Na ida para o trabalho.
Se abertos: cinco minutos. Se fechados: sete.
Não preciso lembrar do que veio antes disso.
Gosto de saber que a vida não me foge em quatro rodas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Des

Às vezes nos concentramos em tão minúsculos detalhes desagradáveis, que azedamos o que nos é doce com pequenas gotas de sabor acre...
Meu desejo: passar do desconforto ao "desincômodo"... quero saborear as sobremesas servidas após as refeições...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Déja vu

Estas imagens de lugares onde andei e vivi que aparecem em meus olhos sem aviso e sem razão, de mim fazem parte.
Por que elas aparecem eu não sei, apenas reconheço-as e me permito viver as sensações que delas advém.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Então, choveu...


A mesma chuva que atrapalha as idas e vindas e desarvora os mais comedidos, lava o corpo do calor e do suor que escorre desde os primeiros sinais de saudação do dia...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vício da escrita

Sem conseguir cumprir uma das minhas promessas para o novo ano (o que chamei de vício da escrita), acabo por descobrir que o trabalho é uma excelente clínica de reabilitação... não deixa tempo nem espaço para as idéias que alimentam o desejo...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Amanhecer

Hoje vi escrito em um outdoor: "Não acordo cedo, apenas aproveito melhor o dia". Nada mais perfeito para quem sai da cama às 5:20 da manhã...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Mizaru Kikazaru e Iwazaru


A imagem dos três macacos da sabedoria nos ensina a não enxergar tudo o que vemos, não escutar tudo o que ouvimos e não dizer tudo o que sabemos. Em outras palavras, ensinam a selecionar e a conter-se. Como escreveu B. Milan em recente artigo publicado, "seleção e contenção tornam a existência mais fácil quando vêm do desejo vital de se opor às forças do inconsciente que podem nos fazer mal".

domingo, 23 de janeiro de 2011

The Good Book

"Love is patient
Love is kind
Love endures all things".

Resoluções II

Uma das resoluções é fazer um exercício diário de doçura e paciência. Não escovo os dentes todas as refeições para limpar os restos de alimentos? Não vou à academia diariamente para manter a forma e a saúde? Não planejo meus dias com antecedência para não ser atropelada pelos afazeres cotidianos? Tudo deve ser feito.
Pois então... a partir de hoje prometo também diariamente exercitar a paciência e o humor em meio a todas as adversidades. Não podemos esperar sempre que os fatos e as pessoas sejam como desejamos. Mas podemos fazer com que sejamos, nós mesmos, como pretendemos.

Resoluções de Ano Novo

Tenho várias resoluções para o Ano Novo. Ainda vou escrevê-las aqui. Mas, uma delas, é não abandonar o "vício de escrever", não deixando este blog abandonado como esteve nos últimos meses. São poucos os vícios interessantes. Este é um deles.