quarta-feira, 31 de março de 2010

Epifania

Para se tornar sábio, você deve ouvir os cães selvagens latindo no seu porão. (Yalom)

Zeitgeist

A flecha do tempo...
A marcha inexorável dos dias...
A vida caminhando em direção única.
Sem volta. O passado finalizado.
Irreversível. Concluído. Terminado.
Preocupações existenciais.
Responsabilidade pessoal.
Carpe diem!

terça-feira, 30 de março de 2010

Pensamento aturdido

No céu
Pesam espessas nuvens
Imensas ninféias...
Sombrio.
Na cabeça
A persistência da dor
Sob o peso das idéias...

Crosswords

Intensidade
Intensa idade
Insaciedade
Imensa saudade
Tensa vontade
Tenacidade
Tenaz verdade
Salinidade
Sanidade...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Tolerância à dor

Conhecer-se...
Perceber as próprias fraquezas
Descortinar falsas certezas
Reconhecer limitações
Aceitar derivações...
Mergulho na consciência
Consequência (não sem dor)
Transigência.

domingo, 28 de março de 2010

Versificar

Num universo onde
Faltar
Cessar
Desviar
Recomeçar
Tornam-se imperativos
De efeito...
Versejar
Passa a ser,
A ter que ser
Predicativo do sujeito.

Verso onipresente

Por vezes, mesmo com um verso
O mundo parece
Adverso.
Em outras, apenas converso
E não me sinto
Tão controverso...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Razão poética

Tempos incertos.
Terapia e filosofia
Tornam-se a razão
Da poesia...

Cidade invisível


Uma metrópole!
Quando sonhara?
Ser acordada
Por gritos de araras...








(Esta é uma das araras fotografadas da janela do meu quarto...)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Futuro do presente

Para que o futuro do subjuntivo
Não se faça liquefeito
O presente, um indicativo
De ser pretérito-mais-que-perfeito.

terça-feira, 23 de março de 2010

Mergulho na paz (Hermógenes)

Se eu fosse uma planta gostaria de um mundo favorável que me fizesse crescer... Mas sou um homem, prefiro um meio adverso me desafiando a crescer.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Abrigo dos sábios (Kabir)

Um diamante estava jogado na rua, coberto de sujeira. Muitos tolos passaram ao largo. Alguém, que conhecia diamantes, este o colheu...

...Eu admiro o diamante, que pode suportar as batidas do martelo.

Vento

Vejo as nuvens passando
Por que vão?
Vão viver outros ares
Por que não?

domingo, 21 de março de 2010

Lamartine

Ainsi toujours poussés vers de nouveaux rivages
Dans la nuit éternelle emportés sans retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l'océan des âges
Jeter l'ancre un seul jour ?

Prudentia quae sera tamen

Uma das máximas da Comunicação: o importante não é o que se diz, mas o que os outros entendem...

Pessoa, sempre Pessoa

"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente..."

sábado, 20 de março de 2010

In vino veritas

Para ficar um pouco mais idílica
A vida, às vezes, precisa
De uma pequena dose etílica.

Rima poética

Tentei rimar mudança
Com resiliência
Mas a rima não se fez.
Com as palavras, nova dança
Para se ter poesia outra vez.

sexta-feira, 19 de março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Teia da existência

Nossa vida
É teia, entrelaçamento
Em outras vidas
Vivências e experiências
Que começaram antes de nós
E se prolongam
Para além de nossa existência.

Nossos pais são história
Presentificam na memória
O que foi visto e vivido
Experenciado e partilhado
Tudo o que foi trilhado
Até agora.

Nossos filhos são projeto
Sementes de prolongamento
Da nossa própria existência
Eternização do que somos
Desejos do que gostaríamos
Possibilidade de permanência
No espaço e no tempo.

Desejo e pesar

Desejo sempre constante
De voltar àquele lugar
Rever, reviver, reencontrar
Relembrar...
Junto com o desejo
O medo, a dúvida, o pesar...
Terá sido bom mudar?
Conseguira superar?

Pessoa - releitura

Navegar é preciso
Viver é impreciso...

Rubem Alves

Há autores que sempre valem a pena: para serem lidos, citados, comentados. Rubem Alves é um deles. Sempre transbordando sabedoria em suas palavras. Boas palavras devem ser sempre lembradas. São alimento para a alma. Sendo assim...

"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma."

Saramago

"Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, deduzimos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, nos encontrando..."
Ou desentendendo e, assim, desencontrando...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amor

De tudo o que passa
Aquilo que permanece
O que fica e edifica
É o amor...
Em tempos turbulentos
E momentos desgastantes
No meio do insignificante
Ele nos ajuda a significar
A vida novamente...
Sem ele somos carcaça...
Sem ele, apenas fumaça...
Sem ele, qualquer tentativa
De construção ou caminhada
É vã, frágil, estéril.
Somos destinados
Ao que é sublime.
Destino etéreo...

Transitório

Sutis atitutes
Escolhas imperfeitas
Palavras mal desenhadas
Maneiras controversas
Atitudes esquivas, estreitas
Superficialidade
À espreita.
E as pessoas nos mostram
A matéria de que são feitas.
Por isso, por tudo,
Pela obliquidade,
Sela-se, também nas pessoas,
Sua transitoriedade.

Dúvida

Ao abrir a porta
Um manto de certezas
Máscaras de arrogância
E prontas respostas a tudo.
Olho em volta
E escolho a indagação,
O ceticismo, a hesitação.
São as interrogações
Que movem o mundo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Palavras

Dentre todos no mundo
Quero brindar à vida
Com generosos seres
Doces, gentis criaturas

Há sempre uma taça de vinho
A ser partilhada com candura
Com aqueles que escrevem
Na vida, eterna partitura.

Palavra: música que encanta
Alegra, seduz e conquista
Convida a partilhar
O que está à nossa vista.

Palavras escritas
Eternizam-se no papel
Há que se ter cuidado
Podem ser elas nosso inferno
Ou nosso céu...

domingo, 14 de março de 2010

Leminski - genial

"Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."

Rimemos todos os dias
Os amores de nossa vida
Com sabores
Cores e humores
Pendores
E suores...
E o nosso coração
Com diversão
Atenção
E gratidão...

Vida em prosa ou em verso
Feita de escrita ritmada
Vida desejada...

sábado, 13 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

Distância

Longe... distante.
A solidão se mostra
Sombra constante...
Não há ninguém
Apenas eu mesma...
Meu texto é meu amante.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Inquieta

Vejo a vida
Como estrada sinuosa
Em paisagem incompleta.
Minha alma
É inquieta.

Proust

Os outros... quem são?

"Nós envolvemos o contorno físico da criatura que vemos com todas as idéias que já formamos a seu respeito e, nesse retrato completo que criamos em nossa mente, essa idéias constantemente tem o papel principal. No final, elas preenchem tão completamente a curva de suas faces, seguem tão exatamente a linha de seu nariz, combinam tão harmoniosamente com o som de sua voz, que não parecem ser nada além de um invólucro transparente, de modo que cada vez que vemos o rosto ou ouvimos a voz são nossas próprias idéias a seu respeito que reconhecemos e escutamos."

terça-feira, 9 de março de 2010

Não seja gentil (Yalom)

Eu eu era tão seguro. Que arrogância! E agora, que tipo de verdade eu estava perseguindo? Acho que meu alvo é a ilusão. Eu luto contra o encantamento. Creio que, embora a ilusão seja muitas vezes alegre e confortadora, ela essencialmente sempre enfraquece e constringe o espírito...
A vida não examinada não vale a pena ser vivida...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Olhos toldados

Ela sentou-se e chorou.
Sentia-se devastada...
Haviam morrido sonhos
Projetos, esperanças
Certezas, ilusões
Lógicas, lembranças...
Foi-se um edifício inteiro
Do que havia feito primeiro
Pôs-se a questionar
Entrever, imaginar.
Ficou voltada para si
Mergulhou fundo no que permaneceu
E com os olhos turvos pode ver melhor
O que era de outros e o que era seu.

Cecília - releitura

O pranto... no instante em que viste
Que a vida se mostrava incompleta
Por vezes alegre... outras muitas, triste
Não sei... poeta?

Cônscio de que a vida fugidia
Exige mais gozo que tormento
Queria viver noites e dias
Sem sentir apenas... vento!

Sem mais... desmorona, edifica
Permanece, perfaz
Parece mais nada saber.
Não sabe se fica ou se desfaz.

Sei que há o pranto.
Embora terno em lágrimas ritmadas
Ele não é tudo.
E mais nada.

domingo, 7 de março de 2010

Satisfação - pelo meu pai

Esta foi escrita pelo meu pai e faço questão de publicá-la.

A satisfação
quando vem
traz problemas.
Ao chegar
amplia o horizonte
de viver
de amar
de sentir.
Ela não estanca
o amor saciado.
Ela amplia as possibilidades
na busca da felicidade
que para ser alcançada
depende da insatisação.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pequenos

Gosto dos pequeninos. Quanto menores e mais novos, mais trabalho e cansaço nos dão. Mas, ao mesmo tempo, nunca serão tão nossos como quando são apenas pequenos. Protegidos em nosso mundo previsível e rotineiro, vivem totalmente vinculados à nossa própria existência.
Gosto de pegá-los ao colo. De beijá-los sentindo o cheiro gostoso de suas peles. De ficar abraçada com eles assistindo desenhos na televisão. De ajudá-los a montar seus quebra-cabeças, seus trilhos de trens, seu pântano de dinossauros ou mesmo a fazer seus (crescentes) deveres de casa.
Cada nova fase em que entram, sinto um misto de sensações: a inefável visão deles crescendo e se tornando cada vez mais donos de si e menos dependentes de mim e uma pontada aguda de dor, por saber que, a medida em que o tempo passa, serão cada vez menos meus e mais do mundo. Contradições internas sutis. Sentimentos complexos.
Lembro quando meu filho mais velho começou a andar, cheio de energia e vontade de explorar tudo em volta. Lembro quando começou a falar, passando rapidamente a tagarelar (coisa que faz até hoje). Quando largou as fraldas. Quando foi pela primeira vez à escola. Quando caiu seu primeiro dentinho. E depois o segundo. Quando começou a ler as primeiras letras e depois todas as palavras que encontrava pela frente. Arrebatador. Nos dois sentidos.
Toda mãe que cria seus filhos com sabedoria, cria-os para o mundo. Sabemos, sempre, que um dia, os pequenos se tornarão grandes, farão suas próprias escolhas, seguirão seu próprio caminho. Mas este processo não é fácil, nem para eles, nem para nós, pais. Acabamos arranhados. Sabemos, pois vivemos isto antes deles, que o mundo a que somos impelidos, nem sempre é justo, eventualmente é previsível, raras vezes seguro e outras poucas vezes benevolente. Tornamo-nos adultos e, com a vida adulta, sozinhos e desprotegidos em uma existência caprichosa - não funciona conforme nossos desejos.
Crescer é doloroso. Mas é a dor que, infelizmente, nos ensina a fazer escolhas, a perseverar quando necessário, a desistir quando preciso e a criar uma base sólida de conhecimentos para que permaneça depois de nós.
O crescimento dos filhos vai-nos pouco a pouco trazendo à tona a limitação da nossa existência. Tornamo-nos cônscios de que não somos eternos, de que todos temos um tempo determinado neste mundo. A aguda percepção da transitoriedade é o que nos traz também a consciência do caráter valioso da vida. Das nossas escolhas e da sempre presente possibilidade de modificar o presente e o porvir. E, apesar do paradoxo da existência e dos sentimentos, a certeza de que a única verdade real é aquela que descobrimos por nós mesmos.

terça-feira, 2 de março de 2010

O peso das idéias

Arrumei meus livros.
Um a um fui colocando
Cada qual em cada canto.
Re-arranjando
Redistribuindo
Segundo finalidade
Ou encanto.
Depois de tudo pronto
Veio-me a dor nos braços
O incômodo nos ombros.
Não sabia que as palavras
Pesavam tanto.

Gravidez de idéias

Novas idéias
Mudança de rumo
Uma nova estrada.
Tempo...
A vida precisa
Ser gestada...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Leveza

A inundação tomou conta...
Invadiu os espaços
Com espessas lágrimas
E tremores de tristeza imensa.
Depois de secas as angústias
Serenados os temores
Repensados os sonhos
Aquietados os pensamentos...
Um singelo instante.
Uma brincadeira
Risadas.
Leveza que paira no ar
Como uma pequena pluma
Que registra aquele momento
E apaga todo o restante.