quarta-feira, 30 de março de 2011

angústia

às vezes tenho medo
de coisas que nem sei
tenho medo de, vivendo,
acordar de sobressalto
por algo que não entendo...

(porque a vida é tão bela
quanto estranha e nos causa
espanto tudo o que nela existe
e para o qual não temos explicação)


pelos caminhos que andamos...
sozinhos estamos?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Por trás da frieza
sutil
do dia monótono...
esconde-se o desejo
febril
da noite de sono...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Poesia


Que falte o tempo
Falte o gesto
O papel, a vontade.

Só não falte a rima
E a sensibilidade.

terça-feira, 22 de março de 2011

Deixo transbordar o desejo
Procuro idéias e rimas
Vasculho fatos
Invento coisas
Puxo pela memória




Transformo-me em palavras
Metamorfoseio...
Sou história...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lua cheia

Quando a lua está cheia
E a sensibilidade cresce
Tal qual o satélite em mim

Perco noites de sono
Sonhando acordada com palavras...

Muitas, entrelaçadas...
Como num carrossel sem fim...

sexta-feira, 18 de março de 2011

sobre o hoje e o amanhã

É necessário

que se aproveite o dia e se viva a vida
focado no agora, sem a ansiedade
do amanhã presente na rotina...

mas tenho uma dúvida:
quando esta semana termina?

terça-feira, 15 de março de 2011

feliz

fazer o que se quer
sem sequer a preocupação
da perfeição

(embora um dia perfeito
não seja dia sem defeito)

segunda-feira, 14 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

sem tempo

Não encontro tempo
Para devanear
Numa vida acelerada.
É como se o tempo, sem morada
Ficasse preso, engarrafado
Na subida da estrada.

quinta-feira, 10 de março de 2011

meio sem jeito

qual frase de efeito
um verso perfeito
qualquer grande feito
para esquecer
seus defeitos...

quarta-feira, 9 de março de 2011

para sobreviver

é necessário, por vezes,
espairecer...
beber um pouco
falar bobagens
rir um tanto
dar a conhecer
seu lado B...

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia da mulher


Dignas de admiração, todas as que fazem expediente de três turnos, estudam, trabalham, cuidam dos filhos, dos maridos, administram a casa, ensinam a empregada, educam as crianças, mantém a louça limpa, a cama arrumada, o armário impecável (mesmo tendo empregada), economizam com bobagens necessárias, programam as férias da família, ficam atentas ao orçamento doméstico, calibram os pneus do carro (sozinhas), cozinham deliciosos pratos (mesmo que simples), costuram as meias furadas e as calças rasgadas, pensam os lanches diários, trocam fraldas, preparam mamadeiras, acordam no meio da noite com os pequenos tossindo, leem livros (às vezes não tão interessantes), assinam revistas, escovam cabelos e dentes (próprios e alheios), não faltam à academia (mesmo quando falta energia), preocupam-se com o futuro... todas sem as quais nossas vidas não seriam admiráveis... A elas, a todas nós, 365 dias de felicitações (mesmo sendo 365 dias de trabalho)!...

segunda-feira, 7 de março de 2011

in exato


às vezes preciso
parar de pensar
para as coisas
fazerem sentido.

preciso
aceitar o
impreciso.

domingo, 6 de março de 2011

De quando fomos pequenos


Gostava de bicicleta e lembra quando aprendeu a andar em apenas duas rodas, sem apoio. Gostava do sol e dos dias de verão. Do clube, nos fins de semana e da praia, nas férias. Dos pastéis, comprados quentes na feira. Dos sorvetes de palito da padaria. Das idas à pizzaria com frequência. Dos passeios ao shopping, apenas para um lanchinho. Das idas a São Paulo para visitar os parentes. Das sopas feitas pela mãe em dias frios, à noite. Das viagens a Campos do Jordão, em julho.
De brincar com uma grande lousa, escrevendo tudo o que aprendia na escola. De brincar de super heróis, com as irmãs, no jardim de casa. De andar atrás do gato (apesar da terrível alergia que isso lhe custava). De contar piadas bobas. De assistir a Fantástica Fábrica de Chocolate todos os finais de ano. De ler Agatha Christie, um pouco mais velha, em dias chuvosos.
Gostava do Natal e de dormir tarde no réveillon. De ter trinta dias de férias no meio do ano. Gostava de quando suas primas iam dormir em sua casa e de quando podiam adiar o sono por conta disto. De ir à escola e do intervalo com as amigas. Das bonecas e das arrumações para brincar de casinha. De ver seu avô dando corda no relógio cuco. De ouvir sua mãe contar histórias de sua infância e das orações, feitas todas as noites antes de dormir. Dos bolos de laranja de sua avó e de sua antiga geladeira Frigidaire. De ir ao cinema, assistir os Trapalhões. De dançar no teatro, nos finais de ano, o que ensaiara nas aulas de ballet. De jogar Atari na casa dos primos. Dos bifes cortados em pequenos pedaços pelo seu pai. Das brincadeiras de esconde-esconde com uma grande turma na rua. Dos passeios em família.

Os anos passam e muitas coisas ficam no passado: os parentes que morreram, as pessoas que não mais encontramos, os lugares aonde nunca mais estivemos. Tudo, entretanto, permanece na memória. Pequenas coisas, singelas histórias, estranhas lembranças. Um pouco do que temos, muito do que somos. O que seremos para os nossos filhos e em tudo o que ficará depois de nós.

sábado, 5 de março de 2011

Re-edição

Na ânsia de acertar todas
Erramos muitas
Arrependemo-nos de várias
Perdemos algumas.

Entre desejos e inquietações,
Perdoar a si mesmo é preciso
Repensar os caminhos, necessário
Reinventar a forma, obrigatório.

Escrever novamente a história.

Publicar a vida em várias versões.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Chuva incessante


Quando chove sem trégua
Como há quatro dias, sem pausa
Nos sentimos enamorados pelo sol
E esquecemos, por momentos
(longos?... pequenos?)
Do desagrado que trazem o calor e o suor.
Não deixamos de nos queixar,
Apenas mudamos o objeto da queixa
(do sol para a chuva).
A ausência muda a forma de pensar sobre as coisas.
A saudade nos invade sempre cheia de desejos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Eufórico

Acho que é verdade incontestável, embora não pareça óbvia: a euforia está sempre mais próxima da melancolia do que do contentamento. Fantasia por sobre o permanente e imutável. Alegoria de desejos desconhecidos ou indesejados mal disfarçada em risos fáceis.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval


O que mais gosto no Carnaval é a possibilidade de ficar distante dele. Física e mentalmente falando. Quando dizem que o Brasil é o país do samba ou quando vejo uma manifestação brasileira no exterior cheia de passistas, me frustro. Não tenho nenhuma ligação com isso. Simplesmente não aprecio.
Quando morei no Rio, adorava a época do Carnaval. Todo mundo ia aos bailes, aos blocos, à avenida. Saiam à noite, dançavam muito, bebiam excessivamente e, provavelmente, dormiam durante o dia. A praia e a cidade ficavam numa tranquilidade que não se via em dias normais de trabalho. Nem em fins de semana de sol. Gostava de ir à praia caminhando e apreciar a pouca vizinhança na areia. Gostava de andar pelo calçadão, com a certeza do descanso do feriado. Nada de bailes. Nada de samba. Nenhuma fantasia.
Houve um tempo em que era gostoso juntar a turma e ir ao clube nesses dias. Não pela música e, sim, pela possibilidade de brincar e festejar em um grupo de amigos. Beber um pouco, dançar bastante, sair da linha, dar muitas risadas, ser feliz de madrugada! Acho que eu ainda toparia uma boa festa com uma turma divertida por uma noite. Mas, apenas uma noite. Depois, o merecido descanso do feriado, o silêncio da distância dos ritmos, um pouco do sol e um banho de piscina... parem a percussão, que se cale a bateria e cessem os tamborins, por favor, obrigada!