quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." (Eduardo Galeano)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Novo Ano

"Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não...
Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Que não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir..."

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Na mente

As preocupações, além de virarem nossos sonhos de cabeça para baixo, nos impedem de correr atrás do vento, de brincar no sol com os movimentos de nossa própria sombra, de invejar o voo e as acrobacias dos pássaros e de rir dos pequenos detalhes que fazem o amanhã diferente do hoje.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

George Herbert

"Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores do que o teu silêncio, e lembre-se que alto deve ser o valor de suas idéias, não o volume de sua voz. Falar sem pensar é disparar sem apontar".
Ouçamos mais e com atenção o que nos é dito e falemos com desvelo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Future proche

Entre as idas e vindas, as viagens rápidas, as pequenas conversas e os acordos verbais, as perguntas não cessam: como vai ser o que vai vir?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Na estrada

A satisfação é sempre temporária... Depois de cada conquista, sempre planejamos algo mais um pouco à frente. Estamos constantemente em...
...em processo, em busca, em crescimento.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Silêncio

Depois da festa, ainda é preciso um tempo para se recolher os copos, lavar os pratos e colocar as coisas no lugar.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poesia

Parafraseando Manoel de Barros, gosto muito mais de viajar nas palavras do que fazê-la de avião.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tautologia

vi-me envolvida em enredos matemáticos
símbolos
letras
números
tabelas
- lógica.
por algum tempo (pouco tempo!)
vi-me esquecida de outros fatores
subtrações
contradições
implicações
proposições
- ilógicas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dicionário

Adjetivo para a vida: preciosa (de grande valia, importante, de grande apreço, magnífica).
Adjetivo para a vida própria: particular (privado, protegido, que é pessoal e não expresso em público).
Adjetivo para a vida alheia: desinteressante (não porque não seja de valor, mas porque os fatos da vida merecem mais a privacidade que a demonstração pública).
Exposição: exibição, lugar onde se expõe coisas à vista.
Egocêntrico: que considera seu próprio eu como centro de todo interesse.
Conclusão: ao gosto do freguês. Que cada um se permita tirar sua própria.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre a política II

Réquiem para um ébrio: a cachaça (alheia) tornou-o político.

(inspirado nos comentários da postagem anterior)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre a política

Réquiem para um político: o poder deixou-o ébrio.

Liberdade

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
(...)
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa... (Fernando Pessoa)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tudo fica

Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça de nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite em que você não dormiu por não parar de chorar, aquele dia em que você ficou caminhando sem saber aonde ir, o beijo inesquecível que você recebeu, a visita surpresa que alguém lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, a mudança indesejada, a viagem planejada, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos poucos, formando quem você é. Não há peça que não se encaixe. Todas se aproveitam. Como são muitas, pode-se esquecer de algumas, e a isso dizemos "passou". Não passou. Está lá, meio perdida e quando você menos espera, ela torna-se necessária para completar o jogo e se enxergar por inteiro. (adaptado da crônica de Martha Medeiros)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Dilema

- Na próxima vez falarei mesmo!
E a amiga olhou-a com olhos arregalados de espanto.
- Mas ela vai ficar brava!
- Pode ser!
- E vai dizer um monte pra você!
- Estou me preparando para isso...
E ficou pensando no quanto, de fato, estava preparada. O quanto já tinha ensaiado esse diálogo. E o quanto uma "chuva" de palavreado nocivo mexeria com ela. Não sabia. Sabia, apenas que precisava falar. Que, se não falasse, seria pior. Seria pior mesmo? Com certeza. Guardar dentro de si coisas não resolvidas e sentimentos desagradáveis não era seu feitio. E ficou com tudo aquilo martelando em sua cabeça o dia inteiro. Mais do que já costumava martelar.
Tentou ler um texto. Levantou e foi tomar água. Deu uma volta e conversou com outras pessoas. Pequenas distrações. Sua mente insistia em voltar aos mesmos pensamentos e rever mentalmente o diálogo ensaiado, as palavras escolhidas e a postura decidida, com uma fala direta e segura. Endireitou as costas e empinou o peito ao pensar nisto. Respirou fundo, como que tomando coragem.
Às 4:30, aquela com quem decidira falar, telefonou. Sim, era sempre assim, sabia que ela diria que estava atrasada, que demoraria mais um pouco a chegar. Sempre esbaforida, apressada, ofegante. Insuportável! Teria que falar o que queria com pressa, não era o que havia planejado. Tentou pensar rapidamente como abordaria o assunto em apenas poucos minutos.
- Oi querida! Estou atrasada!
- Sim...
- Como tenho muitas coisas ainda a resolver, decidi que hoje não irei até aí.
- ...
- Talvez amanhã. Talvez na próxima semana apenas.
- Ok.
Sentiu um misto de sensações. Alívio pelo adiamento da situação, misturado com desapontamento por ter se preparado para enfrentá-la. Talvez assim fosse melhor, falar em outra hora, com menos pressa.
Continuaria com o firme propósito de dizer tudo o que queria? Manteria sua mente longe da dúvida? Não sabia. Sabia apenas que ainda não seria desta vez que a enfrentaria. Talvez, na próxima. Talvez...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Bem-te-vis


Pensamos que fosse um ninho de pombas. Pombas detestáveis, ratos de asas, com suas doenças e seus parasitas. Planejamos sua retirada. Pedimos ao senhor que foi chamado para o serviço que tirasse tudo, folhas, galhos, ninho, ovos, todos instalados no espaço do ar condicionado do quarto. Não queríamos tal perigo tão perto. No dia combinado, ficamos a postos, satisfeitos com a empreitada que evitaria possíveis problemas futuros. Mas... quanto desapontamento! O suposto ninho de pombas era, na verdade, um belo ninho de bem-te-vis, com quatro pequenos ovos esperando para nascer. Decepção! Ficamos todos entristecidos com o trágico destino dos pássaros que nós mesmos selamos: enquanto os pais piavam em desagrado no telhado, os ovos quebraram todos ao caírem no chão. Como não havíamos percebido antes? Como não notar que, naqueles estreitos espaços do suporte do ar condicionado, não caberiam gordas pombas indesejadas? Como não ter tido mais tempo para observar e notar que não precisaríamos retirar o ninho, deixando os bem-te-vis nascerem, crescerem e cantarem? Como poderíamos evitar aquele infeliz enredo? Já era tarde... o trabalho já havia sido realizado. Decidimos por fim, que aquele ninho poderia se converter, posteriormente, em abrigo para outros bichos indesejáveis. Convencemo-nos de que não havia sido em vão. E dissemos uma frase non sense: "assim foi melhor", que nada resolve, que não adianta, mas encerra a história.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Procura-se

Procura-se um lugar para viver. Um lugar conhecido, onde se possa encontrar, em alguma esquina, uma ou outra lembrança. Um lugar onde não se sinta sempre estrangeiro. Um lugar novo, porém antigo. Um lugar fresco, porém farto de calor - humano! Um lugar onde não se sinta só. Onde não se seja só. Onde não haja sempre a sensação de pessoas sem memória e lugares sem história. Um lugar onde se possa ser visto. Visto e lembrado.

Procura-se um emprego. Sem dúvida, bem remunerado. Com pessoas com quem se possa aprender e a quem se possa admirar. Onde se possa crescer com dores suportáveis. Onde se possa conviver com situações contornáveis. Onde se possa ser e se arriscar, sem temer. Onde se possa ser criativo. Criativo e feliz.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Carta ao vizinho

Vizinho, bom dia!
Não te conheço, ou melhor, conheço-te apenas de relance ao nos encontrarmos todas as manhãs, proferindo um educado "bom dia" um para o outro. Sei que tua casa passa o dia vazia, fechada, sem ninguém. Pelo menos sei disso na hora do almoço, único horário em que estou em casa antes do fim do dia. Ouço-te, depois das seis: teus passos, o salto alto de tua esposa, o choro de teu filho menor (já vi pela janela que são dois). Não, não é isso que me incomoda. De fato, não há incômodo algum, à exceção dos churrascos eventuais - não pela fumaça ou pelo cheiro da carne, mas pelas músicas de gosto muito duvidoso. Nada que a porta fechada e o ar condicionado ligado não resolvam. O que me intriga é o fato de teus móveis serem arrastados tarde da noite. Nove, dez horas e os escutamos - os móveis - de um lado para outro, e mais um tanto, e mais um pouco. Impossível não ouvir. Tanto quanto é impossível não se perguntar: acaso limpam a casa a esta hora? Mudam a decoração diariamente? Instituíram novo hábito noturno? Têm alguma mania ou superstição? Não consigo não ficar devaneando sobre isto, ao mesmo tempo em que penso o quanto em nosso tempo moramos lado a lado e não nos falamos, o quanto - não apenas nós, mas todos, em geral - somos tão próximos e tão desconhecidos, o quanto a nossa vida reservada nos mantém apenas conosco mesmos, sem muitas relações, nenhuma troca, nenhuma conversa, sem ver nossos filhos brincando juntos pelo condomínio e sem explicações para os móveis itinerantes e as músicas irritantes.

Escrita interior

Instalou-se o desejo de libertar-se. Não havia mais o que fazer com aquele sentimento desagradável e desajeitado. Já percebera que não havia solução para aquilo. Não se pode mudar as pessoas, nem desejar que as situações se resolvam por si mesmas. Há o desejo sempre infantil de que alguma mágica aconteça. Mas não... ela talvez aconteça por meio das palavras. Terapia. Fala-se, escreve-se, compõe-se, rima-se, transforma-se o vivido. Muda-se o que vai dentro, não o que está fora. Tarefa árdua e necessária. Desejo de conseguir rir daquilo que faz chorar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nota

Imagine uma criatura impertinente e empertigada. Desagradável. Que a todos despreza por meio de atitudes nada delicadas e que se julga acima do bem e do mal. Uma pessoa deselegante, mas que se esconde, por vezes e por rápidos momentos, atrás de uma roupagem educada e fina. Insolente, arrogante e louca por dinheiro - de uma forma nauseante. Alguém que, embora tente manter as aparências, é transparente demais para consegui-lo. Seu humor está sempre estampado no riso cínico, semelhante ao de uma bruxa de história infantil, nos gestos exagerados e no topete. Sim, no topete. Quanto mais descabelado, mais ouriçado, mais certa a conclusão de que a histeria está presente junto dela, desta pessoa. Sempre faz questão de manter todos em um patamar abaixo de si, sobre o qual se eleva, apontando dedos, gritando erros, tomando decisões segundo sua própria perspectiva.
É a pessoa ideal para ser tema de piadas veladas. Embora temida por todos (ou quase todos), nos bastidores é sempre ridicularizada e malhada, tal qual Judas em véspera de Páscoa.
Na última vez em que a vi, por rápidos segundos, mentalmente imaginei uma cena: um dia, andando pelas ruas de Paris, às margens do Sena, algo único aconteceu. Gesticulando e falando alto, histericamente, tamanha a felicidade por estar em um lugar tão digno de sua importante presença e por poder dizer a todos que lá esteve, colhendo, com satisfação, as bocas abertas de admiração ao seu redor, tropeçou em seu próprio topete. Caiu, desajeitada que era e gritou alto e esganiçado, deselegante como sempre foi. Acabou por afogar-se no rio, em dia frio e com poucos a presenciarem sua ida para o outro mundo, levada por Deus ou carregada pelo diabo, não sabemos.
PS. A criatura acima, embora motivo de piadas entre os que a conheceram, nunca valeu um conto (nem de assombração!), uma crônica, menos ainda um romance. Não valia nem uma referência. Talvez, uma nota. De falecimento.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Silêncio

Não há como negar: sinto coisas difusas e inexprimíveis. Sob diversas formas, estes sentimentos tomam meus pensamentos e desalinham meu equilíbrio. Desconheço a paz sob a forma de "manso lago azul". Meu interior é cheio de ondulações. Às vezes me assombram ventos e algumas tempestades. As coisas têm sido um tanto efêmeras, mas nem por isso insignificantes. Isto torna tudo mais penoso, mais complexo. Isto definitivamente não significa sossego. Talvez inquieta seja minha alma. Flerto com o silêncio em sonhos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Re-sentimento

Pegue sua raiva. Ponha-a em um recipiente. Guarde-a. Deixe-a destilando por algum tempo. Não, não despeje-a imediatamente, substância turva, azeda, vômito incontido. Deixe-a quieta. Olhe de longe para ela, analise-a, resguardando-se - o tanto quanto isto for possível! Separe os elementos mais sólidos dos fluidos. Quando percebê-los com nitidez, escolha os mais interessantes. Ou os mais repugnantes. Ou os esquisitos. Os mais desagradáveis. Ou os viscosos. Dê, aos eleitos, outro destino. Um lugar simbólico, de significação própria. Transforme-os. Componha um texto, crie uma imagem. Faça nascer um conto, uma história, uma poesia. Não se desfaça do sentimento. Faça com que ele seja impiedosamente seu e, sobretudo, sedativamente belo. Transforme a raiva em ouro. Permita nascer o verbo.

Idéia Fixa

Era uma menina cismada. Algo acontecia e aquilo ficava dias lhe rondando os pensamentos. Alguém lhe incomodava e aquela pessoa passava a fazer parte de sua rotina, hora após hora em sua cabeça, imaginando cenas e situações que ainda poderia viver. Sua mãe lhe dizia: deixe de devaneios, menina! Escute uma música, olhe as estrelas... Seus ouvidos ouviam as melodias. Seus olhos se encantavam com a lua. Mas sua cabeça distava de tudo aquilo. Longe, junto de seus pensamentos, de suas fixas idéias cotidianas.
Aconteceu que um dia, ela cismou de cismar com palavras. Uma a uma iam lhe aparecendo e ela passava horas compondo histórias, construindo idéias, inventando rimas. Gostou desta cisma. Esta lhe agradava. Esta lhe permitia olhar para a lua e as estrelas, estar com elas e pensar sobre elas. Permitia-lhe ouvir músicas e prestar atenção em suas rimas, descobrindo-as óbvias ou fascinantes. Passou a escrever o que lhe vinha à mente. Deixou seus pensamentos sobre o papel e passou a partilhá-los com outros, que liam seus textos. Descobriu um vício, uma coceira. Tornou a fantasia palpável, palatável. Não deixou de cismar. Talvez nunca deixasse.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bug

Pequeno inseto voando pousou sobre o seu braço e deu-lhe uma ferroada. E o menino chorou. Senti sua dor na medida em que via a pele ao redor da picada ficar vermelha e inchada. Sim, meu filho, doem as ferroadas. Não, não acontece apenas uma vez na vida. Sim, há venenos mais potentes e outros que apenas nos trazem à realidade da vida: encontramos insetos em flores, em belos lugares, em locais que nos parecem protegidos. Olhando de perto, talvez encontremos não insetos, mas um pouco de veneno em nós mesmos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pés no chão

Ela nunca havia tido medo de avião. Mas agora sentia enorme angústia ao voar. Pensar na fragilidade daquela situação, na possibilidade de qualquer pequeno erro levar tudo (e todos) pelos ares - literalmente - a apavorava. Cada minuto de voo se tornara, nos últimos tempos, um exercício de afastar pensamentos desagradáveis e persistentes e de tentar encontrar distrações em meio ao enjoo, às turbulências, aos atrasos.
Metáfora da vida: gostava de andar com os pés no chão. Embora sonhasse com situações além da realidade imediata e não se acomodasse frente ao conquistado, nada era sem planejamento. Havia um exercício de percepção, de mergulho no ser e na vida, buscando entender, sempre e pouco a pouco as pessoas e situações que a envolvia. Sim, definitivamente, seus pés gostavam do solo, da terra, da sensação de saber os caminhos que trilhava e de escolher seus percursos. Voar apenas na imaginação. Andar em terra firme, seus próprios passos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Clarice

Não me deem fórmulas certas porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Receita

Disciplina, moderação, continência. Diariamente. Hoje à noite, um pequeno deslize, momento furtivo. Após o jantar, não apenas um, mas dois bombons com cereja e marasquino. Doce instante na boca perpetuado na alma. Longo minuto ditoso, feliz, risonho. Sem culpa. Benigno. Ir ao encontro de um sabor agradável em meio a dias salobros.
Não quero perder minha essência. Nem abrir mão de meus sonhos.
Quero afastar os venenos que nos matam pouco a pouco.
A vida merece a felicidade diariamente vivida.

Belt

Parafraseando Vinícius, sou aversa a qualquer tipo de opressão. Até mesmo calças, que ao sentar apertam minha cintura, me incomodam...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Exercícios de ser criança (M.B.)

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
Que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que carregar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
o mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio
Do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
E até infinitos.
Com o tempo, aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira,
com o tempo, descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever, o menino viu
que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo.
Ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando um ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde colocando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O livro dos abraços

Quando Lucia era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia e, na busca de gente, caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lucia e, ao longo de seu caminhar, ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.

Egocêntricos

"Diz-se daquele que refere tudo ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse". É desta forma que o dicionário define o egocentrismo, comportamento fácil de ser identificado no ambiente de trabalho e que pode fazer com que o clima organizacional se degrade. Os profissionais egocêntricos podem estar em todos os níveis hierárquicos, mas eles acabam por se destacar em níveis mais altos. Quando estão na liderança, geram medo, não dão espaço para os outros crescerem, suas ideias são as mais importantes e os erros são sempre dos outros. O resultado: a organização serve ao egocêntrico e não ele à organização.
Por se considerar "acima do bem e do mal", ele acaba sendo agressivo. O ambiente de trabalho, por sua vez, se degrada em função dos conflitos gerados e do mal-estar existente. Este tipo de pessoa acaba causando repúdio nos colegas e subordinados.
O egocentrismo é uma ferramenta de defesa de uma pessoa que tem baixo nível de auto-estima e confiança. Um nível controlado de auto-estima fortalece a pessoa, sem exaltar o ego.

Vida que segue

E apesar do que nos machuca
Aos poucos, ferida constante.
E o que nos mantém alerta
Preocupados, com o hoje
E o amanhã, hesitantes.
Há a vida que deve ser
intensamente vivida.
E o amor,
Benvindo até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fé na vida

Vivemos em tempos difíceis nos quais os problemas, os "nós", as tentações, a falta de paz, enfim, os males que nos cercam de todos os lados parecem querer nos devorar vivos, como leões. (I Pedro 5,8). Há que perguntar: já houve tempos fáceis?
A fé que nos mantém, qualquer que seja ela, é também aquilo que nos move e nos leva em frente. É preciso crer em algo maior para que a vida faça sentido.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fim de semana

Para todo cansaço e cada excesso há um fim de semana. Ele nos permite que nos afastemos de todas as coisas que nos invadem a mente e estar com todas as outras que nos habitam o coração.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

fastio

Tantas idéias
Um sem número de palavras
Milhões de informações.
Meu processador interno
Precisa de uma noite inteira
De sono calmo, profundo
Para lembrar cada movimento,
Palavra, idéia, objetivo,
Coisa e tal.
Preciso de um tempo
Para lembrar quem sou afinal.

domingo, 18 de julho de 2010

Brasília - recortes e releituras

Brasília é construída na linha do horizonte - artificial. Tão artificial quanto deve ter sido o mundo quando criado. É bonita? Se eu dissesse isto, diriam que gosto dela, mas digo que ela é a imagem da minha insônia. Uma acusação? Minha insônia sou eu, é vívida, é meu espanto.
Em Brasília tenho medo - vejo urubus sobrevoando ao longe. O que estará morrendo, meu Deus?
Brasília é praia sem mar, é prisão ao ar livre.
Todo um lado de frieza humana que eu tenho, encontro em mim aqui em Brasília e floresce gélido, potente, força gelada da Natureza. Aqui é o lugar onde os meus crimes (não os piores, mas os que não entenderei em mim), onde os meus crimes não seriam de amor. Vou embora para os meus outros crimes, aqueles que eu e Deus compreendemos.

sábado, 17 de julho de 2010

Clarice

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou, por assim dizer, vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir de modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.

Sempresente

Folhas secas
Idéias tortas
Vento que passeia
Por debaixo das portas.
Frio, tardio, nos gela,
Nos faz olhar a vida
Através da janela.
Olhar para fora,
Pelo vidro
Olhar para dentro
Buscar sentido.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Insônia

Veio a chuva
Sem tréguas
Para lavar a alma
E borrar palavras
Mal colocadas.
Permaneceu a umidade nas letras
O frio, o desejo do aconchego.
Deixar o tempo
Passar e se encarregar
De recolher as pedras
Lançadas.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Diamantes

O diamante é o mais resistente material de ocorrência natural que se conhece, cuja escala de dureza é 10, ou seja, a mais alta que existe. Isto significa que não pode ser riscado por nenhum outro mineral ou substância que possua dureza inferior. No entanto, é muito frágil e esse fato deve-se a sua clivagem octaédrica perfeita.
O valor dos diamantes reside na ausência total de impurezas e de cor. Uma vez selecionados, são cortados e talhados ao longo de direções nas quais há dureza menor. Uma talha bem realizada é aquela que realça o foco ou o conjunto de cores derivados dos reflexos. A lapidação e o polimento de diamantes requerem de diversas horas, até meses para serem feitos. São eles os determinantes no valor final da pedra. Neles residem seu preciosismo.
Assim são as lapidações. "Machucam" os objetos, tirando-lhes várias camadas para que se tornem mais belos, mais brilhantes, mais valiosos. Perfeitos, talvez. Ou quase isto.

Incompletude

Jogar tudo para o alto
E dizer: "não mais!"
Todo o desígnio
Desfaz-se no contíguo

Roda viva

Sensação
Contradição
Desejo
De andar na contramão

terça-feira, 6 de julho de 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Andarilho

Os seixos do caminho
Aprendizados que marcam
Andar trôpego, mas resoluto.
Crescer é sair do ninho...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Deus conosco

É preciso criar uma couraça
Para se proteger do medo,
Da raiva, do descontentamento
Da leviandade
Da mordaça.

Questão de fé?

Há quem acredite em Deus, Buda, Maomé
Em santos, orixás, anjos, em OVNIS.
Há quem acredite em mágica.
Há quem não acredite em nada.
Eu acredito em Freud.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ainda sobre o budismo

"É essencial que os líderes, em primeiro lugar, comecem a realizar vigorosamente sua própria revolução humana. Cabe a nós mudar, não aos outros".

domingo, 27 de junho de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Gente

Conheço todo o tipo de gente
Gente triste, gente contente.
Gente que liga, assim, de repente
E os que nem lembramos serem parentes.

Há quem ligue só quando quer dinheiro
Há os que apareçam em dia certeiro
Há gente que gosta do que é verdadeiro
E os que não quero saber nem do enterro.

Há gente que vejo sempre
Há quem veja apenas em casamento
Há os que desejo ter em mente
E outros de quem prefiro não tomar conhecimento.

Há gente com quem se pode contar
E muitos para quem nada se pode falar...
Há gente por quem queremos procurar
E outros que, por muito pouco, cismam de "se achar"

Há gente que, apesar da seriedade
Encontra espaço para o riso de verdade
Veem a dor, mas também a beleza
Sentem a intensidade da vida
E a vivem em sua "inteireza"...

Desejo gente como a gente.
Por perto os que podem partilhar
Os que riem conosco e nos fazem acreditar
Que a vida no meio de gente
Faz do nosso tempo, tempo a recordar...

Saramago 16/11/1922 - 18/06/2010

"Nossa única defesa contra a morte é o amor..."

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Conjuntura

Às vezes o tempo sobra
De tal forma
Que me perco em suas dobras...
Às vezes me falta
Tanto me acho
Que me encontro sempre em pauta...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Presente precioso

Para Ivan e Helô que me mandaram gentilmente esta história cheia de sabedoria e a quem tenho em lugar especial cá no coração...

"É bom pensar sobre o passado e aprender com ele
Mas não é bom estar no passado
Pois assim eu perco meu eu.

Também é bom pensar sobre o futuro e me preparar para ele
Mas não é bom estar no futuro
Pois assim também perco meu eu.

E quando eu perco meu eu, perco o que é mais precioso para mim.
É tão simples: o presente me abriga..."

Leminski novamente

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pessoas

Trabalho com pessoas. Adultos, crianças, famílias. Gosto de gente. Sinto-me solidário com o que é humano: dúvidas, incertezas, dificuldades, contradições, medos, alegrias. Ao mesmo tempo, não deixo de estar frequentemente surpresa com alguns comportamentos, atitudes e principalmente com o nível de doenças emocionais que atingem as famílias. A sociedade encontra-se esfacelada e as famílias também estão feitas em pedaços. Pais e mães não sabem como agir com os filhos, não há limites construídos para os comportamentos e, principalmente para as ações, não há valores éticos permeando as escolhas e atitudes dos adultos e, consequentemente, das crianças. Pais ausentes, mães ocupadas, crianças voluntariosas. Consumistas, materialistas, superficiais. Egocêntricos, acríticos, descentrados. Todos. Muitos. Doentes emocionalmente, psicologicamente, tais crianças crescerão sem norte, sem suporte, sem escolhas, perpetuando a doença da sociedade. Preocupação...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Há de ver o verso

Que sejamos, então, poetas
Transformar curvas em retas
Tornar a vida em versos
Aprender no adverso...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

...

Há atitudes, falas, pensamentos que, de fato, não merecem comentários. Os valores de algumas pessoas são extremamente questionáveis. A melhor escolha em horas estranhas, sem dúvida, é o silêncio. Não adianta querer que se entenda o que não se está preparado para entender.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

História devida

Em todas as novas oportunidades dispostas pelo caminho, a consciência de que um outro trecho do caminhar será descoberto e que, junto ao cansaço da caminhada, o aprendizado do novo, a aceitação do diferente, a possibilidade do acréscimo... Mais uma página escrita nas letras da nossa história...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Caminho insólito II (pelo meu pai)

Pensamentos acelerados
Caminhos do amor
Para a direita ou para a esquerda?
Parei deixando marcas.

Luiz A. Bittencourt

PECADOS (pelo meu pai novamente)

Que pecados posso cometer?
de querer melhorar, ou
de querer viver melhor, ou
de querer saber mais?
Com certeza
é de ver
onde outros não viram.
O de querer
o que outros não querem.
O de se incomodar
quando outros se acomodam.
O de ser diferente
Quando outros querem ser iguais.

Luiz A. Bittencourt

Só sei que muito ainda não sei

Há quem imagine (ou esteja certo, talvez) que suas palavras serão sempre as mais belas, as mais sábias, as mais interessantes... Há, por outro lado, quem tenha a certeza de que as palavras, belas ou não, só fazem sentido quando trazem sentido. Não há quem tudo saiba.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Finito

Certa nostalgia pelas coisas chegadas a termo, não simplesmente pelo que já foi, mas pela sempre presente percepção da finitude de todas as coisas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Doces azedos

No caminho, flores perfumadas, convite ao deleite. De perto, espinhos em todos os galhos. Arranhões e perfume.

domingo, 25 de abril de 2010

Idéias secas

Choveu uma chuva de lavar a alma e apagar memórias ruins. Depois da água, um céu limpo e novamente sol e calor de escurecer até as peles mais claras. Céu azul. Sem nuvens. E as idéias passando ao largo, sem destino final. O vento as leva. Os olhos não as vêem mais...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dúvidas intransigentes

O que fazer com o que não se sabe? Eu não sei...

G-estações

Há um outono inteiro de sentimentos se transformando em mim... E uma primavera de outros, florescendo, recriando. Nada tranquilo. Nada calmo. Nada fácil. Há lutas internas entre o velho e o novo, entre a poda e a florada. Sinto como se tivesse sendo tragada por uma onda enorme que quase me engole, me leva longe e traz de volta, me faz perder o rumo, o senso, a direção. Preciso de fôlego. Entraram sal e areia em meus olhos...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Caminho insólito

Viagem acelerada...
Atalho
Curva
Freada...

Por um lindésimo de segundo (Leminski)

tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas

domingo, 11 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O novo de novo

Agora
Não há mais aquela
Angústia insana.
No seu lugar
Ficou o desejo
Um grande apetite...
Vontade, gana...

terça-feira, 6 de abril de 2010

domingo, 4 de abril de 2010

Grey´s

Pictures are taken of mountain climbers at the top of the mountain. They are smiling. Ecstatic. They do not take pictures along the way ’cause who wants to remember the rest of it? We push ourselves because we have to; not because we like it. The relentless climb, the pain and anguish of taking it to the next level… nobody takes pictures of that. Nobody wants to remember. We just want to remember the view from the top . The breathtaking moment at the edge of the world. That is what keeps us climbing and it´s worth the pain. That is the crazy part: it’s worth anything.

Coisa sem sentido

Sensação de estar perdido...
às vezes tenho
vontade
de sei lá...
outras vezes...
o que me faz
melhorar?

Páscoa

Vida nova?
O que significam, então
esses velhos sentimentos
e essa indesejável sensação
insistindo em atormentar
mantendo ainda longe da mão
dos olhos e do coração
esse espírito do novo?

Fim de semana

Domingo.
Cedo levanto...
Logo percebo
Que poderia dormir
Mais um tanto...

quarta-feira, 31 de março de 2010

Epifania

Para se tornar sábio, você deve ouvir os cães selvagens latindo no seu porão. (Yalom)

Zeitgeist

A flecha do tempo...
A marcha inexorável dos dias...
A vida caminhando em direção única.
Sem volta. O passado finalizado.
Irreversível. Concluído. Terminado.
Preocupações existenciais.
Responsabilidade pessoal.
Carpe diem!

terça-feira, 30 de março de 2010

Pensamento aturdido

No céu
Pesam espessas nuvens
Imensas ninféias...
Sombrio.
Na cabeça
A persistência da dor
Sob o peso das idéias...

Crosswords

Intensidade
Intensa idade
Insaciedade
Imensa saudade
Tensa vontade
Tenacidade
Tenaz verdade
Salinidade
Sanidade...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Tolerância à dor

Conhecer-se...
Perceber as próprias fraquezas
Descortinar falsas certezas
Reconhecer limitações
Aceitar derivações...
Mergulho na consciência
Consequência (não sem dor)
Transigência.

domingo, 28 de março de 2010

Versificar

Num universo onde
Faltar
Cessar
Desviar
Recomeçar
Tornam-se imperativos
De efeito...
Versejar
Passa a ser,
A ter que ser
Predicativo do sujeito.

Verso onipresente

Por vezes, mesmo com um verso
O mundo parece
Adverso.
Em outras, apenas converso
E não me sinto
Tão controverso...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Razão poética

Tempos incertos.
Terapia e filosofia
Tornam-se a razão
Da poesia...

Cidade invisível


Uma metrópole!
Quando sonhara?
Ser acordada
Por gritos de araras...








(Esta é uma das araras fotografadas da janela do meu quarto...)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Futuro do presente

Para que o futuro do subjuntivo
Não se faça liquefeito
O presente, um indicativo
De ser pretérito-mais-que-perfeito.

terça-feira, 23 de março de 2010

Mergulho na paz (Hermógenes)

Se eu fosse uma planta gostaria de um mundo favorável que me fizesse crescer... Mas sou um homem, prefiro um meio adverso me desafiando a crescer.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Abrigo dos sábios (Kabir)

Um diamante estava jogado na rua, coberto de sujeira. Muitos tolos passaram ao largo. Alguém, que conhecia diamantes, este o colheu...

...Eu admiro o diamante, que pode suportar as batidas do martelo.

Vento

Vejo as nuvens passando
Por que vão?
Vão viver outros ares
Por que não?

domingo, 21 de março de 2010

Lamartine

Ainsi toujours poussés vers de nouveaux rivages
Dans la nuit éternelle emportés sans retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l'océan des âges
Jeter l'ancre un seul jour ?

Prudentia quae sera tamen

Uma das máximas da Comunicação: o importante não é o que se diz, mas o que os outros entendem...

Pessoa, sempre Pessoa

"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente..."

sábado, 20 de março de 2010

In vino veritas

Para ficar um pouco mais idílica
A vida, às vezes, precisa
De uma pequena dose etílica.

Rima poética

Tentei rimar mudança
Com resiliência
Mas a rima não se fez.
Com as palavras, nova dança
Para se ter poesia outra vez.

sexta-feira, 19 de março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Teia da existência

Nossa vida
É teia, entrelaçamento
Em outras vidas
Vivências e experiências
Que começaram antes de nós
E se prolongam
Para além de nossa existência.

Nossos pais são história
Presentificam na memória
O que foi visto e vivido
Experenciado e partilhado
Tudo o que foi trilhado
Até agora.

Nossos filhos são projeto
Sementes de prolongamento
Da nossa própria existência
Eternização do que somos
Desejos do que gostaríamos
Possibilidade de permanência
No espaço e no tempo.

Desejo e pesar

Desejo sempre constante
De voltar àquele lugar
Rever, reviver, reencontrar
Relembrar...
Junto com o desejo
O medo, a dúvida, o pesar...
Terá sido bom mudar?
Conseguira superar?

Pessoa - releitura

Navegar é preciso
Viver é impreciso...

Rubem Alves

Há autores que sempre valem a pena: para serem lidos, citados, comentados. Rubem Alves é um deles. Sempre transbordando sabedoria em suas palavras. Boas palavras devem ser sempre lembradas. São alimento para a alma. Sendo assim...

"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma."

Saramago

"Estranha relação é a que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas sobre cujas significações, acepções e sentidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, deduzimos e concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas e, apesar da falsa segurança que em geral aparentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, nos encontrando..."
Ou desentendendo e, assim, desencontrando...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amor

De tudo o que passa
Aquilo que permanece
O que fica e edifica
É o amor...
Em tempos turbulentos
E momentos desgastantes
No meio do insignificante
Ele nos ajuda a significar
A vida novamente...
Sem ele somos carcaça...
Sem ele, apenas fumaça...
Sem ele, qualquer tentativa
De construção ou caminhada
É vã, frágil, estéril.
Somos destinados
Ao que é sublime.
Destino etéreo...

Transitório

Sutis atitutes
Escolhas imperfeitas
Palavras mal desenhadas
Maneiras controversas
Atitudes esquivas, estreitas
Superficialidade
À espreita.
E as pessoas nos mostram
A matéria de que são feitas.
Por isso, por tudo,
Pela obliquidade,
Sela-se, também nas pessoas,
Sua transitoriedade.

Dúvida

Ao abrir a porta
Um manto de certezas
Máscaras de arrogância
E prontas respostas a tudo.
Olho em volta
E escolho a indagação,
O ceticismo, a hesitação.
São as interrogações
Que movem o mundo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Palavras

Dentre todos no mundo
Quero brindar à vida
Com generosos seres
Doces, gentis criaturas

Há sempre uma taça de vinho
A ser partilhada com candura
Com aqueles que escrevem
Na vida, eterna partitura.

Palavra: música que encanta
Alegra, seduz e conquista
Convida a partilhar
O que está à nossa vista.

Palavras escritas
Eternizam-se no papel
Há que se ter cuidado
Podem ser elas nosso inferno
Ou nosso céu...

domingo, 14 de março de 2010

Leminski - genial

"Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."

Rimemos todos os dias
Os amores de nossa vida
Com sabores
Cores e humores
Pendores
E suores...
E o nosso coração
Com diversão
Atenção
E gratidão...

Vida em prosa ou em verso
Feita de escrita ritmada
Vida desejada...

sábado, 13 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

Distância

Longe... distante.
A solidão se mostra
Sombra constante...
Não há ninguém
Apenas eu mesma...
Meu texto é meu amante.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Inquieta

Vejo a vida
Como estrada sinuosa
Em paisagem incompleta.
Minha alma
É inquieta.

Proust

Os outros... quem são?

"Nós envolvemos o contorno físico da criatura que vemos com todas as idéias que já formamos a seu respeito e, nesse retrato completo que criamos em nossa mente, essa idéias constantemente tem o papel principal. No final, elas preenchem tão completamente a curva de suas faces, seguem tão exatamente a linha de seu nariz, combinam tão harmoniosamente com o som de sua voz, que não parecem ser nada além de um invólucro transparente, de modo que cada vez que vemos o rosto ou ouvimos a voz são nossas próprias idéias a seu respeito que reconhecemos e escutamos."

terça-feira, 9 de março de 2010

Não seja gentil (Yalom)

Eu eu era tão seguro. Que arrogância! E agora, que tipo de verdade eu estava perseguindo? Acho que meu alvo é a ilusão. Eu luto contra o encantamento. Creio que, embora a ilusão seja muitas vezes alegre e confortadora, ela essencialmente sempre enfraquece e constringe o espírito...
A vida não examinada não vale a pena ser vivida...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Olhos toldados

Ela sentou-se e chorou.
Sentia-se devastada...
Haviam morrido sonhos
Projetos, esperanças
Certezas, ilusões
Lógicas, lembranças...
Foi-se um edifício inteiro
Do que havia feito primeiro
Pôs-se a questionar
Entrever, imaginar.
Ficou voltada para si
Mergulhou fundo no que permaneceu
E com os olhos turvos pode ver melhor
O que era de outros e o que era seu.

Cecília - releitura

O pranto... no instante em que viste
Que a vida se mostrava incompleta
Por vezes alegre... outras muitas, triste
Não sei... poeta?

Cônscio de que a vida fugidia
Exige mais gozo que tormento
Queria viver noites e dias
Sem sentir apenas... vento!

Sem mais... desmorona, edifica
Permanece, perfaz
Parece mais nada saber.
Não sabe se fica ou se desfaz.

Sei que há o pranto.
Embora terno em lágrimas ritmadas
Ele não é tudo.
E mais nada.

domingo, 7 de março de 2010

Satisfação - pelo meu pai

Esta foi escrita pelo meu pai e faço questão de publicá-la.

A satisfação
quando vem
traz problemas.
Ao chegar
amplia o horizonte
de viver
de amar
de sentir.
Ela não estanca
o amor saciado.
Ela amplia as possibilidades
na busca da felicidade
que para ser alcançada
depende da insatisação.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pequenos

Gosto dos pequeninos. Quanto menores e mais novos, mais trabalho e cansaço nos dão. Mas, ao mesmo tempo, nunca serão tão nossos como quando são apenas pequenos. Protegidos em nosso mundo previsível e rotineiro, vivem totalmente vinculados à nossa própria existência.
Gosto de pegá-los ao colo. De beijá-los sentindo o cheiro gostoso de suas peles. De ficar abraçada com eles assistindo desenhos na televisão. De ajudá-los a montar seus quebra-cabeças, seus trilhos de trens, seu pântano de dinossauros ou mesmo a fazer seus (crescentes) deveres de casa.
Cada nova fase em que entram, sinto um misto de sensações: a inefável visão deles crescendo e se tornando cada vez mais donos de si e menos dependentes de mim e uma pontada aguda de dor, por saber que, a medida em que o tempo passa, serão cada vez menos meus e mais do mundo. Contradições internas sutis. Sentimentos complexos.
Lembro quando meu filho mais velho começou a andar, cheio de energia e vontade de explorar tudo em volta. Lembro quando começou a falar, passando rapidamente a tagarelar (coisa que faz até hoje). Quando largou as fraldas. Quando foi pela primeira vez à escola. Quando caiu seu primeiro dentinho. E depois o segundo. Quando começou a ler as primeiras letras e depois todas as palavras que encontrava pela frente. Arrebatador. Nos dois sentidos.
Toda mãe que cria seus filhos com sabedoria, cria-os para o mundo. Sabemos, sempre, que um dia, os pequenos se tornarão grandes, farão suas próprias escolhas, seguirão seu próprio caminho. Mas este processo não é fácil, nem para eles, nem para nós, pais. Acabamos arranhados. Sabemos, pois vivemos isto antes deles, que o mundo a que somos impelidos, nem sempre é justo, eventualmente é previsível, raras vezes seguro e outras poucas vezes benevolente. Tornamo-nos adultos e, com a vida adulta, sozinhos e desprotegidos em uma existência caprichosa - não funciona conforme nossos desejos.
Crescer é doloroso. Mas é a dor que, infelizmente, nos ensina a fazer escolhas, a perseverar quando necessário, a desistir quando preciso e a criar uma base sólida de conhecimentos para que permaneça depois de nós.
O crescimento dos filhos vai-nos pouco a pouco trazendo à tona a limitação da nossa existência. Tornamo-nos cônscios de que não somos eternos, de que todos temos um tempo determinado neste mundo. A aguda percepção da transitoriedade é o que nos traz também a consciência do caráter valioso da vida. Das nossas escolhas e da sempre presente possibilidade de modificar o presente e o porvir. E, apesar do paradoxo da existência e dos sentimentos, a certeza de que a única verdade real é aquela que descobrimos por nós mesmos.

terça-feira, 2 de março de 2010

O peso das idéias

Arrumei meus livros.
Um a um fui colocando
Cada qual em cada canto.
Re-arranjando
Redistribuindo
Segundo finalidade
Ou encanto.
Depois de tudo pronto
Veio-me a dor nos braços
O incômodo nos ombros.
Não sabia que as palavras
Pesavam tanto.

Gravidez de idéias

Novas idéias
Mudança de rumo
Uma nova estrada.
Tempo...
A vida precisa
Ser gestada...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Leveza

A inundação tomou conta...
Invadiu os espaços
Com espessas lágrimas
E tremores de tristeza imensa.
Depois de secas as angústias
Serenados os temores
Repensados os sonhos
Aquietados os pensamentos...
Um singelo instante.
Uma brincadeira
Risadas.
Leveza que paira no ar
Como uma pequena pluma
Que registra aquele momento
E apaga todo o restante.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Jardim da alma

Não ouso permitir que a pequena idéia
A pretensa frase
A estranha palavra
Fugidias, escapem de mim.
Ponho-as no papel, todas.
Para revelarem a mim mesma
Minha alma
E me permitirem construir
Pouco a pouco
Meu jardim.

Incertezas

A imagem do mar
Um navio a chegar...
Para quem acena?
Estarão o céu e o sol
O mar, a areia e o sal
A redimir ou condenar?
Onde estão os mistérios?
Será a incerteza
Seu ministério?

Estações

Ao final da tarde, nuvens pesadas de chuva cresceram do calor que fizera durante o dia. Novamente. Os verões são assim: intensos, temperamentais, quase malcriados. E, talvez, assim deva ser. Não há verões sem o tormento das fortes chuvas, assim como não há invernos sem gostosos dias de sol. Lembro-me dos outonos de minha infância: dias claros, azuis intensos, os mais bonitos do ano. E, apesar das folhas secas que caíam na grama, insistindo em mantê-la sempre coberta, não havia como resistir ao encanto das flores-de-maio que florescem exatamente nesta época. Deixam cair seus longos cabelos de flores brancas, cor-de-rosa, alaranjadas numa teimosia que desafia a estação.
Sempre gostei das primaveras. Elas trazem um alento após dias frios e o desejo de, novamente, gozar a vida do lado de fora: enchem-se os parques, as piscinas, voltam as brincadeiras pelas ruas e nos gramados das casas. E assim, mais uma vez, deve ser. A sucessão dos eventos, das temperaturas, dos encantamentos e das singularidades. A sempre presente dúvida de como será aquela nova estação, se mais seca, mais chuvosa, mais quente, mais gelada. Numa sucessão interminável de surpresas, também nossa vida se nos mostra como algo sempre em mutação, pronta para nos surpreender com o que nos comove, nos assusta, nos alegra, o que nos tranquiliza ou o que nos faz pensar simplesmente que sempre será assim e que o controle das coisas não está em nossas mãos, embora desejássemos que sim. Nada que nos acontece modifica nossa vida de forma definitiva. Mais à frente, haverá sempre uma nova estação e, com ela, todas as suas peculiaridades. Resta-nos viver. Resta-nos enfrentar.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pérolas

Título de um livro de Rubem Alves: "Ostra feliz não faz pérola". Resta-me supor que estes grãos de areia a me perturbar, incomodar, coçar, injuriar, que, nas ostras, se tornam preciosidades que compõem belos ornamentos, estejam se transformando em algo precioso em mim também, feito de letras, palavras, frases, textos. Ornamentos que tentam dar sentido às coisas na medida em que caem no papel.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Trigêmeos

Minha irmã teve três bebês. Trigêmeos. Três de uma só vez, juntos. Milagre da vida e da ciência. Tudo em triplo: sustos, alegrias, descobertas, choros, fraldas, resfriados, banhos, tombos, cansaço... E o encantamento... Três pequenas criaturas diferentes que nos seduzem em dose tripla.
Não os tenho por perto. Moro longe. Sinto falta de vê-los crescer e descobrir o mundo como fizeram meus filhos antes deles.
Descobri que são um pouco meus também, que adoro saber deles e seus pequenos passinhos (ainda que estejam engatinhando por hora). Que minha irmã tem dentro de si uma força e uma disposição que nem mesmo ela sabe que tem. E minha mãe, um grande coração e uma generosidade sem par, num trabalho cotidiano que não parece querer acabar.
É algo único a acontecer com uma pessoa. E com todos em volta. Não há filho que seja igual. Não há experiência que seja a mesma ou que não possa ser partilhada. A experiência da maternidade (e da paternidade também) é singular porque nos deixa marcas eternas, nos modifica de forma definitiva, sem chances de retorno ao que éramos antes deles, dos filhos. A experiência da minha irmã transcende a imaginação e nos faz pensar que a vida é dotada de um sentido quase que inescrutável, mas cheio de surpresas que nos levam a supor, por vezes, que a divindade, definitivamente, habita em nós.

Mamãe e o sentido da vida

Li num livro: "Somos criaturas que buscam sentido, que tem que lidar com o inconveniente de serem lançadas num universo que, intrinsecamente, não tem sentido algum".
Palavras perfeitas
Completas
Plenas de sentido.
Dizem tudo sobre meu momento.
Gostei tanto que passaram
A fazer parte de mim.
Tornaram-se um pouco minhas.

Desejo

Queria pegar tudo:
Escrita esmerada
Rasgos de inspiração
Frases elegantes
Leituras enlevadas
Pensamentos desconcertantes
Compondo-os, construindo-os,
Transformando-os todos
Num relicário de palavras...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O tamanho das coisas

Aqui e ali...
Vou passando
Vou ficando
Pouco ou o suficiente...
Conheço o sol, o mar, a praia
Conheço a poeira, a secura na garganta
Conheço frio e calor extremos
Mate tomado frio ou tomado quente.
Conheço alegrias e decepções
Coisas e gentes
Que acabam por deixar sua marca
Pela beleza ou pela necessidade
De serem apagadas da mente.
Aqui e ali, tudo vai se conhecendo
Muitos vão se deixando conhecer.
E quando penso nisso tudo
Com frio na barriga
E receio do que ainda há pela frente
Penso que tem que valer a pena
Que o mundo visto por esta lente
É interessante, novo, sempre diferente.
Penso que meu tamanho é o do mundo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Partilhar

Não queres que eu me divida contigo
Não queres ouvir queixas, ver minhas fraquezas
Queres apenas a imagem de mim
Manter longe a dúvida, ter o conforto da certeza
A idéia de que tudo permanece
E que os abalos são de pequena grandeza.
Resta-me ficar comigo mesma
Tentando desesperadamente aceitar
O que quer que seja.
Restam meus pensamentos recorrentes
Minhas poucas palavras
Minha teimosa franqueza.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tristeza

A tristeza que perdura
Cá dentro em mim
Procura na razão
Uma explicação
Para a não continuidade
Para a necessidade do fim.

Introspecção

O futuro incerto
O caminho desconhecido
O ponto de interrogação.
Introspecção.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Arte

Em mim...a arte!
Por que me tomas?
Onde se enconde?
Em que parte?

Circunstâncias

Forced, under the circumstances, to take some time off...
Why not? Shouldn´t everybody do the same?

Máquina humana

Não me dou com números e códigos
Frios, calculados, exatos
Quase perfeitos.
Admira-me quem o faz...
Mas gosto mesmo das palavras, suas composições
Idéias, sentidos atribuídos
Gestos subentendidos
Desejos expressos e contidos.
Das máquinas... atrai-me a humana
Suas idiossincrasias, singularidades
Seus afetos, seus sentidos
Seus enganos, erros cometidos
Frustrações e imperfeições.
Não me dou com a exatidão.
Prefiro a possibilidade remota
A curva na estrada, a flutuação...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Bebidas

Quero beber a vida em taça de cristal
Com algumas frutas frescas
Muitas pedras de gelo
E adoçada com mel
Nos quentes dias de verão dos trópicos...
E quero continuar a bebê-la
Em uma grande caneca com alça lateral
Quente, espessa
Polvilhada de canela
E com um toque de cacau
Quando o inverno quiser gelar
Nosso espírito e nossos sonhos
E quando o cinza do céu se impuser sob o sol...

Passado

Nosso passado sempre nos condenará? Seremos sempre confundidos com nossos atos cometidos em pleno processo de aprendizado de viver? Espero que não... A flecha do tempo corre em uma única direção e o passado deve se converter no arco por meio do qual empunhamos tal flecha. Não temos como mudar o que já foi. É posto. Ao contrário, temos como tentar manter o alvo ao alcance dos olhos...

Feriado

Simples constatação:
Gripe em pleno feriado de Carnaval
Causa embotamento intelectual.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Programação

A vida cumpre com seu cronograma
Nossas expectativas não estão no programa

Incoerências

Estou disponível... em outro lugar
Tenho capacidade... para outra coisa
Posso fazer... não há interesse
Posso mudar... deixe como está
Sei a receita... cadê os ingredientes?
Conheço parte da estrada... perdi o mapa.

Pedras aqui e ali... estão ou são o caminho?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Long night

Tonight
I could remember that time
A place so lifelike
That I still can feel it inside.
After that... a dream.
Strange, grey and empty dream
Long dream... too much long!
People just passing by
Not staying... not talking...
Nothing around...
Long night inside.
I hope tomorrow
The sunrise can finally wake me up
To find again the happiness by my side...

Fernando Pessoa

Pessoa novamente... sempre.

Ameaçou chuva.
E a negra nuvem passou sem mais...
Todo o meu ser se alegra
Em alegrias iguais.
Nuvem que passa...
Céu que fica e nada diz...
Vazio azul sem véu
Sobre a terra feliz...

E a terra é verde, verde...
Por que então minha vista
Por meus sonhos se perde?
De que é que a minha alma dista?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Capitu

Naquele momento ela poderia ter sido a inspiração para Machado criar sua Capitu. Sentia, dentro de si, a força do mar batendo, limando os seixos, invadindo a passagem, deixando tudo avesso. Era sua alma agitada extravasando na sua fala, seus gestos, seus olhos. Os olhos... de ressaca.

Fernando Pessoa

Retrato do céu. Metáfora da alma.

Tenho dó das estrelas
luzindo há tanto tempo,
há tanto tempo...
Tenho dó delas.
Não haverá um cansaço das coisas,
de todas as coisas (...)?
Um cansaço de existir,
de ser,
só de ser,
o ser triste brilhar ou sorrir...
Não haverá, enfim,
para as coisas que são,
não a morte,
mas sim uma outra espécie de fim,
ou uma grande razão - qualquer coisa assim
como um perdão?

Vida

Vida... caleidoscópio de possibilidades.
Temos que aprender, atentos
A compor belas imagens
Enxergando-as para além do momento.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Infância


Fim de dezembro, muito calor e as crianças todas indo à escola de bermuda e camiseta sem mangas. Neste dia, meu filho de apenas três anos cismou de ir à escola de botas de montaria. Sim, bermuda, camiseta sem mangas e botas de montaria. Quase ridículo! E absolutamente genial, maravilhoso! Quando mais, a não ser na infância, podemos fazer isto? Ou ir ao supermercado vestidos de Super-Homem ou com a máscara do Batman? Ou correr pelo quintal apenas de cueca e com um pedaço de pau na mão imitando uma espada, nos intitulando "Homem- Cueca"? Ou colocar os riggatoni do almoço nos dedos e dizer que eles - os dedos - são feitos de macarrão? Ou falar verdades inconvenientes sem constragimento? Ou sair correndo de medo do bando de passarinhos que, aos berros, sobrevoou o nosso jardim?
Não sei se a vida é uma só, se é apenas esta. Mas sei que a infância passa logo e que, ao nos tornarmos adultos, seremos sempre adultos...

Vasto mundo

O mundo é grande e, desde o início, pouco familiar. Com o tempo, ele vai nos mostrando todas as coisas - seus lugares, seus encantos e sua escuridão... Nos mostra também aqueles que nele vivem - as pessoas, o mais importante. Torná-lo familiar é um processo lento, difícil, doloroso por vezes... O processo da vida. É o que nos move e o que nos transforma. Quanto mais vivemos e mais conhecemos, mais partilhamos dessa aventura de sermos apresentados a tudo o que nos rodeia...
Quero sentir o mundo dentro de mim, quero tê-lo como algo cada vez mais conhecido e, ao mesmo tempo, sempre novo... Quero não ter medo de ir em frente e ver o que ainda não vi, nem sei, nem ter vontade de voltar sempre ao lugar primeiro - o ninho, inicial, familiar, sempre encantado. Quero ganhar asas, voar, me sentir mais leve, poder ver tudo o que está em volta com olhos de supremo interesse e de desejo curioso. Quero ter comigo, sobretudo, as pessoas, sempre... aquelas que passam e que encantam, de algum modo, com sua fala, seus olhos, sua doçura, sua sabedoria ou apenas com seu bom humor...
Como Fernando Pessoa, quero sentir-me nascida a cada dia para a eterna novidade do mundo, tendo o medo apenas como um tempero, um "frio na barriga", nunca um impedimento.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Chuvas de verão

Na minha mente... uma enxurrada de idéias...
E assim como as chuvas, elas mesmas,
As palavras que delas brotam - das enxurradas -
Ajudam, por vezes,
A apaziguar a estiagem...
Outras vezes, entretanto são não mais
Que águas que transbordam e rompem diques
Que quase afogam
Que tiram o fôlego, o foco e a tranquilidade
Que deve habitar na alma...
Prefiro tempos amenos... mesmo silenciosos...

Insônia

E então a súbita insônia escorre pelo papel, transformando-se em palavras entrelaçadas... Frases. Um pequeno texto.
Silêncio. Voltar a dormir.

Exercício

Pare. Respire (lembrou de fazer isto hoje?). Novamente, então.
Apague a luz das idéias. Descarrile o trem dos pensamentos. Faça calar, uma a uma, as palavras.
Aprecie. Espere. Escute.
O teclado. O grito de araras. Um bem te vi. Carros.
O mundo volta ao seu eixo.

O novo

E a menina corre esperançosa em direção ao ventre daquele Lugar procurando uma sensação de familiaridade e gratidão há algum tempo perdidas...
Aqueles braços estarão abertos?

Como é

As coisas, por serem como são
Devem ficar como estão
Para que possam, de algum modo
Vir a ser...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Para todos os dias...

"...try a little tenderness..."

Solidão

Quanto ao estar só... sei o quanto é necessário no nosso processo de imersão em nós mesmos, no nosso auto-conhecimento... mas sinto falta da família e dos amigos, partilhando o café da tarde e o bolo de fubá feitos carinhosamente antes do jantar...

Procura-se

Procura-se: alguém que me ensine
a não pagar pelo excesso de bagagem,
a andar sem me preocupar com o destino,
a apreciar a viagem...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Tudo novo

Ah... desacelera coração... que a vida é cheia de paradas nas mais diferentes paisagens...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010