domingo, 12 de setembro de 2010

Dilema

- Na próxima vez falarei mesmo!
E a amiga olhou-a com olhos arregalados de espanto.
- Mas ela vai ficar brava!
- Pode ser!
- E vai dizer um monte pra você!
- Estou me preparando para isso...
E ficou pensando no quanto, de fato, estava preparada. O quanto já tinha ensaiado esse diálogo. E o quanto uma "chuva" de palavreado nocivo mexeria com ela. Não sabia. Sabia, apenas que precisava falar. Que, se não falasse, seria pior. Seria pior mesmo? Com certeza. Guardar dentro de si coisas não resolvidas e sentimentos desagradáveis não era seu feitio. E ficou com tudo aquilo martelando em sua cabeça o dia inteiro. Mais do que já costumava martelar.
Tentou ler um texto. Levantou e foi tomar água. Deu uma volta e conversou com outras pessoas. Pequenas distrações. Sua mente insistia em voltar aos mesmos pensamentos e rever mentalmente o diálogo ensaiado, as palavras escolhidas e a postura decidida, com uma fala direta e segura. Endireitou as costas e empinou o peito ao pensar nisto. Respirou fundo, como que tomando coragem.
Às 4:30, aquela com quem decidira falar, telefonou. Sim, era sempre assim, sabia que ela diria que estava atrasada, que demoraria mais um pouco a chegar. Sempre esbaforida, apressada, ofegante. Insuportável! Teria que falar o que queria com pressa, não era o que havia planejado. Tentou pensar rapidamente como abordaria o assunto em apenas poucos minutos.
- Oi querida! Estou atrasada!
- Sim...
- Como tenho muitas coisas ainda a resolver, decidi que hoje não irei até aí.
- ...
- Talvez amanhã. Talvez na próxima semana apenas.
- Ok.
Sentiu um misto de sensações. Alívio pelo adiamento da situação, misturado com desapontamento por ter se preparado para enfrentá-la. Talvez assim fosse melhor, falar em outra hora, com menos pressa.
Continuaria com o firme propósito de dizer tudo o que queria? Manteria sua mente longe da dúvida? Não sabia. Sabia apenas que ainda não seria desta vez que a enfrentaria. Talvez, na próxima. Talvez...

Um comentário:

Anônimo disse...

Há momentos em que, para não nos anularmos, devemos mesmo "chutar o pau da barraca". Melhor a liberdade, o céu ou a chuva sobre a cabeça do que o ar viciado, fétido dessa "barraca".


Mamy