quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Excesso de mim

Dia fresco e claro. Manhã cristalina. O vento que sacode o dourado dos ipês traz o resto de frio do inverno enquanto leva minha mente por lugares e tempos distantes. Faz-me pensar no que fora deixado no caminho e no que é preciso deixar de carregar além do peso das roupas.
Tenho pensado em fusões e separações. Em entendimentos e reparações. A vida tem se apresentado em detalhes tantos que me perco, por vezes, na profusão de pensamentos e sentimentos que se avolumam.
Há muito a entender de mim. Há sensos e desejos, avanços e retrocessos. Há a crueza das percepções de coisas toscas, imateriais, esquecidas ou nunca vistas antes. O entendimento tem se feito em passos pequenos e titubeantes.
Qual o tempo das resoluções? O tempo todo, entre o vivido e o por vir. Qual o prazo para se encontrar? Nunca ontem, hoje tampouco: há prestações a serem acertadas pela vida. Minha alma mergulha em pensamentos ora acelerados, ora enigmáticos. Os sonhos acrescentam temperos singulares à realidade: passado e presente, medos e desejos, detalhes tantos, em preto e branco. Acordo e permaneço sonhando. Durmo raciocinando. A cabeça oprime.  O sentimento extravasa. O excesso de consciência cansa. Qual a morada do remanso?

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sonho e realidade

a batalha travada em mim 
coloca em evidência
sentimentos brutos, fortes, nauseantes
quase inaudíveis

nāo sei fingir que nāo me importam
a febre que me acomete
a impossibilidade de ser mais leve
o tamanho do que sinto

(quase me perco de mim)

sonho com possibilidades:
o resgate sem pagamento
o planejamento (quase) sem falhas
a redençāo dos pecados 

(sonho ser outra sem deixar de ser)





sábado, 20 de agosto de 2016

Os Upanishads

"Quando as palavras não existem dentro de nós, quando a verbalização cessa completamente, quando o intelecto já não funciona e quando a mente se ausenta, deixando de memorizar, então acontece: vivemos a experiência".

Por hoje

Hoje vesti-me com um belo vestido, tentando disfarçar o semblante cansado. O sorriso, ora doce, ora distante fazia as vezes de normalidade. Os olhos opacos queriam apenas encarar o horizonte à procura da minha alma. Acabei o dia com a maquiagem borrada.
Lembrei-me da citação: "Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata". Pensei na criança desejosa de tudo, feliz em se imaginar satisfeita em suas vontades pueris. Pensei também nas fantasias, nos devaneios de instantes em que o pensamento vai longe e alcança o invisível. O desejo trai a mente adulta em suas molequices sem juízo. Ele nos põe em reinos de quimeras quase impossíveis.
A vida nos pede mais. Embora seja certo que a mente reta acaba fatalmente a nos levar por caminhos sinuosos, os atalhos não podem ser o curso da história.
Tenho vivido dias de mente abarrotada de compromissos e de urgência de vazios silenciosos. Tenho dormido noites de sonhos abrasadores, de pernas entrelaçadas, sussurros ao pé do ouvido e corpos dançantes. Dia e noite em distância incalculável.
Sinto-me despejada de mim mesma, tocando em sentimentos ingratos. Vejo-me a procura de meus olhos no espelho, tentando decifrar minha mente labiríntica. Sinto-te cada dia mais longe, mas não há como estender a mão para um fôlego momentâneo. Hei de saber, de mim e de você, se as pedras são duras, se a água é cristalina, se o diamante é mais resistente do que o vidro. E se o tempo, esse senhor de soluções e desastres faz conosco gracejos ou perversas artes.