sábado, 20 de agosto de 2016

Por hoje

Hoje vesti-me com um belo vestido, tentando disfarçar o semblante cansado. O sorriso, ora doce, ora distante fazia as vezes de normalidade. Os olhos opacos queriam apenas encarar o horizonte à procura da minha alma. Acabei o dia com a maquiagem borrada.
Lembrei-me da citação: "Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata". Pensei na criança desejosa de tudo, feliz em se imaginar satisfeita em suas vontades pueris. Pensei também nas fantasias, nos devaneios de instantes em que o pensamento vai longe e alcança o invisível. O desejo trai a mente adulta em suas molequices sem juízo. Ele nos põe em reinos de quimeras quase impossíveis.
A vida nos pede mais. Embora seja certo que a mente reta acaba fatalmente a nos levar por caminhos sinuosos, os atalhos não podem ser o curso da história.
Tenho vivido dias de mente abarrotada de compromissos e de urgência de vazios silenciosos. Tenho dormido noites de sonhos abrasadores, de pernas entrelaçadas, sussurros ao pé do ouvido e corpos dançantes. Dia e noite em distância incalculável.
Sinto-me despejada de mim mesma, tocando em sentimentos ingratos. Vejo-me a procura de meus olhos no espelho, tentando decifrar minha mente labiríntica. Sinto-te cada dia mais longe, mas não há como estender a mão para um fôlego momentâneo. Hei de saber, de mim e de você, se as pedras são duras, se a água é cristalina, se o diamante é mais resistente do que o vidro. E se o tempo, esse senhor de soluções e desastres faz conosco gracejos ou perversas artes.

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