terça-feira, 31 de agosto de 2010

Silêncio

Não há como negar: sinto coisas difusas e inexprimíveis. Sob diversas formas, estes sentimentos tomam meus pensamentos e desalinham meu equilíbrio. Desconheço a paz sob a forma de "manso lago azul". Meu interior é cheio de ondulações. Às vezes me assombram ventos e algumas tempestades. As coisas têm sido um tanto efêmeras, mas nem por isso insignificantes. Isto torna tudo mais penoso, mais complexo. Isto definitivamente não significa sossego. Talvez inquieta seja minha alma. Flerto com o silêncio em sonhos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Re-sentimento

Pegue sua raiva. Ponha-a em um recipiente. Guarde-a. Deixe-a destilando por algum tempo. Não, não despeje-a imediatamente, substância turva, azeda, vômito incontido. Deixe-a quieta. Olhe de longe para ela, analise-a, resguardando-se - o tanto quanto isto for possível! Separe os elementos mais sólidos dos fluidos. Quando percebê-los com nitidez, escolha os mais interessantes. Ou os mais repugnantes. Ou os esquisitos. Os mais desagradáveis. Ou os viscosos. Dê, aos eleitos, outro destino. Um lugar simbólico, de significação própria. Transforme-os. Componha um texto, crie uma imagem. Faça nascer um conto, uma história, uma poesia. Não se desfaça do sentimento. Faça com que ele seja impiedosamente seu e, sobretudo, sedativamente belo. Transforme a raiva em ouro. Permita nascer o verbo.

Idéia Fixa

Era uma menina cismada. Algo acontecia e aquilo ficava dias lhe rondando os pensamentos. Alguém lhe incomodava e aquela pessoa passava a fazer parte de sua rotina, hora após hora em sua cabeça, imaginando cenas e situações que ainda poderia viver. Sua mãe lhe dizia: deixe de devaneios, menina! Escute uma música, olhe as estrelas... Seus ouvidos ouviam as melodias. Seus olhos se encantavam com a lua. Mas sua cabeça distava de tudo aquilo. Longe, junto de seus pensamentos, de suas fixas idéias cotidianas.
Aconteceu que um dia, ela cismou de cismar com palavras. Uma a uma iam lhe aparecendo e ela passava horas compondo histórias, construindo idéias, inventando rimas. Gostou desta cisma. Esta lhe agradava. Esta lhe permitia olhar para a lua e as estrelas, estar com elas e pensar sobre elas. Permitia-lhe ouvir músicas e prestar atenção em suas rimas, descobrindo-as óbvias ou fascinantes. Passou a escrever o que lhe vinha à mente. Deixou seus pensamentos sobre o papel e passou a partilhá-los com outros, que liam seus textos. Descobriu um vício, uma coceira. Tornou a fantasia palpável, palatável. Não deixou de cismar. Talvez nunca deixasse.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bug

Pequeno inseto voando pousou sobre o seu braço e deu-lhe uma ferroada. E o menino chorou. Senti sua dor na medida em que via a pele ao redor da picada ficar vermelha e inchada. Sim, meu filho, doem as ferroadas. Não, não acontece apenas uma vez na vida. Sim, há venenos mais potentes e outros que apenas nos trazem à realidade da vida: encontramos insetos em flores, em belos lugares, em locais que nos parecem protegidos. Olhando de perto, talvez encontremos não insetos, mas um pouco de veneno em nós mesmos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pés no chão

Ela nunca havia tido medo de avião. Mas agora sentia enorme angústia ao voar. Pensar na fragilidade daquela situação, na possibilidade de qualquer pequeno erro levar tudo (e todos) pelos ares - literalmente - a apavorava. Cada minuto de voo se tornara, nos últimos tempos, um exercício de afastar pensamentos desagradáveis e persistentes e de tentar encontrar distrações em meio ao enjoo, às turbulências, aos atrasos.
Metáfora da vida: gostava de andar com os pés no chão. Embora sonhasse com situações além da realidade imediata e não se acomodasse frente ao conquistado, nada era sem planejamento. Havia um exercício de percepção, de mergulho no ser e na vida, buscando entender, sempre e pouco a pouco as pessoas e situações que a envolvia. Sim, definitivamente, seus pés gostavam do solo, da terra, da sensação de saber os caminhos que trilhava e de escolher seus percursos. Voar apenas na imaginação. Andar em terra firme, seus próprios passos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Clarice

Não me deem fórmulas certas porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Receita

Disciplina, moderação, continência. Diariamente. Hoje à noite, um pequeno deslize, momento furtivo. Após o jantar, não apenas um, mas dois bombons com cereja e marasquino. Doce instante na boca perpetuado na alma. Longo minuto ditoso, feliz, risonho. Sem culpa. Benigno. Ir ao encontro de um sabor agradável em meio a dias salobros.
Não quero perder minha essência. Nem abrir mão de meus sonhos.
Quero afastar os venenos que nos matam pouco a pouco.
A vida merece a felicidade diariamente vivida.

Belt

Parafraseando Vinícius, sou aversa a qualquer tipo de opressão. Até mesmo calças, que ao sentar apertam minha cintura, me incomodam...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Exercícios de ser criança (M.B.)

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
Que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que carregar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
o mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio
Do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
E até infinitos.
Com o tempo, aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira,
com o tempo, descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever, o menino viu
que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo.
Ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando um ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde colocando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O livro dos abraços

Quando Lucia era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia e, na busca de gente, caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito caminhou Lucia e, ao longo de seu caminhar, ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.

Egocêntricos

"Diz-se daquele que refere tudo ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse". É desta forma que o dicionário define o egocentrismo, comportamento fácil de ser identificado no ambiente de trabalho e que pode fazer com que o clima organizacional se degrade. Os profissionais egocêntricos podem estar em todos os níveis hierárquicos, mas eles acabam por se destacar em níveis mais altos. Quando estão na liderança, geram medo, não dão espaço para os outros crescerem, suas ideias são as mais importantes e os erros são sempre dos outros. O resultado: a organização serve ao egocêntrico e não ele à organização.
Por se considerar "acima do bem e do mal", ele acaba sendo agressivo. O ambiente de trabalho, por sua vez, se degrada em função dos conflitos gerados e do mal-estar existente. Este tipo de pessoa acaba causando repúdio nos colegas e subordinados.
O egocentrismo é uma ferramenta de defesa de uma pessoa que tem baixo nível de auto-estima e confiança. Um nível controlado de auto-estima fortalece a pessoa, sem exaltar o ego.

Vida que segue

E apesar do que nos machuca
Aos poucos, ferida constante.
E o que nos mantém alerta
Preocupados, com o hoje
E o amanhã, hesitantes.
Há a vida que deve ser
intensamente vivida.
E o amor,
Benvindo até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fé na vida

Vivemos em tempos difíceis nos quais os problemas, os "nós", as tentações, a falta de paz, enfim, os males que nos cercam de todos os lados parecem querer nos devorar vivos, como leões. (I Pedro 5,8). Há que perguntar: já houve tempos fáceis?
A fé que nos mantém, qualquer que seja ela, é também aquilo que nos move e nos leva em frente. É preciso crer em algo maior para que a vida faça sentido.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fim de semana

Para todo cansaço e cada excesso há um fim de semana. Ele nos permite que nos afastemos de todas as coisas que nos invadem a mente e estar com todas as outras que nos habitam o coração.