domingo, 28 de fevereiro de 2010

Estações

Ao final da tarde, nuvens pesadas de chuva cresceram do calor que fizera durante o dia. Novamente. Os verões são assim: intensos, temperamentais, quase malcriados. E, talvez, assim deva ser. Não há verões sem o tormento das fortes chuvas, assim como não há invernos sem gostosos dias de sol. Lembro-me dos outonos de minha infância: dias claros, azuis intensos, os mais bonitos do ano. E, apesar das folhas secas que caíam na grama, insistindo em mantê-la sempre coberta, não havia como resistir ao encanto das flores-de-maio que florescem exatamente nesta época. Deixam cair seus longos cabelos de flores brancas, cor-de-rosa, alaranjadas numa teimosia que desafia a estação.
Sempre gostei das primaveras. Elas trazem um alento após dias frios e o desejo de, novamente, gozar a vida do lado de fora: enchem-se os parques, as piscinas, voltam as brincadeiras pelas ruas e nos gramados das casas. E assim, mais uma vez, deve ser. A sucessão dos eventos, das temperaturas, dos encantamentos e das singularidades. A sempre presente dúvida de como será aquela nova estação, se mais seca, mais chuvosa, mais quente, mais gelada. Numa sucessão interminável de surpresas, também nossa vida se nos mostra como algo sempre em mutação, pronta para nos surpreender com o que nos comove, nos assusta, nos alegra, o que nos tranquiliza ou o que nos faz pensar simplesmente que sempre será assim e que o controle das coisas não está em nossas mãos, embora desejássemos que sim. Nada que nos acontece modifica nossa vida de forma definitiva. Mais à frente, haverá sempre uma nova estação e, com ela, todas as suas peculiaridades. Resta-nos viver. Resta-nos enfrentar.

Um comentário:

Roberta disse...

Não resisto, passo por aqui e me encanto! Quando você vai publicar tudo isso? Urgente! Beijo