quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ensaio sobre o amor

"Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você..."

Não por acaso acordei com esta música na cabeça hoje. Não sou fã de Roberto Carlos e acho muitas de suas músicas piegas, mas às vezes, mesmo os autores de que não gostamos traduzem o que sentimos de forma exata.

Não é simples falar sobre o amor e todas as suas nuances, porque amor não é um sentimento único, exato e igualmente sentido por e para todos. O amor romântico é um sentimento que mistura admiração, desejo, cumplicidade. Que pede correspondência e, para os que se envolvem seriamente, construção do futuro, filhos, fidelidade. Os amores filial e fraternal também incluem admiração e cumplicidade, mas são recheados de ciúmes, de expectativas, de desejo de acolhimento e reconhecimento. 

O amor maternal só pode ser definido por quem o sentiu. É eterno e incondicional. Todas as dores de um filho são sentidas na carne por uma mãe ou um pai. A primeira vacina que tomou meu pequeno, quando bebê, fez verter lágrimas incontroláveis dos meus olhos. A dor causada por aquela minúscula agulha foi como uma faca empunhada em meu peito.

Amar não é tarefa fácil porque o amor não é um sentimento simples. É grandioso, mas nos apequena. É claro, mas nos confunde. É nobre, mas nos torna vulneráveis. É forte, mas, muitas vezes, nos sentimos enfraquecidos por sua força. Porque amar nos deixa com medo. Medo de perder o objeto do amor, medo de que a pessoa que amamos se machuque, medo de que a própria vida se encarregue de transformá-lo num fardo. 

Apesar da complexidade e das contradições que envolvem esse sentimento, não há como passar pela vida sem amar. E sem sentir-se amado. Talvez, seja a essência de estar no mundo e de estar entre as pessoas. 

Saber lidar com esse sentimento (e com tudo o que o envolve e o torna ainda menos simples) é tarefa para uma vida inteira. E situações que nos são indesejáveis, por vezes, nos fazem refletir profundamente sobre ele. A distância, em especial, coloca-o sempre na pauta do dia. A ausência nos faz perceber as coisas por perspectivas únicas. Afastar-se do objeto do amor significa não se deixar envolver apenas pelas pequenezas que nos invadem o dia, pelas perturbações que fazem parte da rotina, pelo despertador que nos acorda antes da hora, pelo cansaço que se acumula durante a semana, pela discussão na hora do almoço com o filho, pela preguiça em levantar do sofá nas tardes de domingo. Afastar-se, também, nos traz ansiedade e uma relação diferente com o tempo vivido e com o tempo futuro.

O tempo é a essência dos afastamentos. Amor sem presença, perde a força, torna-se ternura, sentimento mais sutil que o amor. Assim precisa ser para nos mantermos sãos, porque amar o vazio nos enlouqueceria. Afastar-se apenas por um tempo, entretanto, pode fazer brotar algumas sementes em nós. Pode servir para que aprendamos a lidar com o medo que a distância nos traz e que nos turva os olhos e nos entristece a alma. Serve, sobretudo, para aprendermos a tratar com sutileza as pequenas e grandes manifestações que envolvem o amor no dia a dia. Serve para programarmos o reencontro com carinho, eternizando-o em nós.

A razão de sobreviver à distância é sempre o reencontro. Contar os dias nos dedos, no calendário, na mudança das estações. Contar o tempo para novamente poder contar, um ao outro, as histórias da vida.

9 comentários:

Roberta Lopez disse...

Analu querida, você nos presenteou com belas reflexões! Um beijo!

Analu Bittencourt disse...

Mais do que reflexões, sentimentos que extravasam. Obrigada pela sua presença no blog.
Beijos!

PROFESSORA IDA disse...

Oi Ana, adorei teu blog, sigo te admirando, beijos e saudades ...
Idaglei- Horto- Uruguaiana

Ana Paula disse...

Oi querida...simplesmente maravilhoso...nossa quanta emoção...e sentimentos...adorei...parabéns pela belíssima mensagem...beijos...

Analu Bittencourt disse...

Ana, obrigada por estar por perto com sua participação e comentários.

Ida, que saudades!!!

Beijos carinhosos!

Carlinha Freitas disse...

Lindo, lindo, lindo!

Como viver sem amor? Como viver sem o amor do meu filho? Como pude viver até hoje sem ver o sorriso do Lucas todos os dias?

E o amor companheiro, amigo e fiel? É muito bom ter o Ronaldo perto de mim!

Beijo!

Analu Bittencourt disse...

Carlinha... o amor deve ser egoísta... sempre queremos por perto aqueles que amamos!
Beijos em vcs três!

André Roland disse...

Eu tinha feito um comentário. Não sei o que houve que ele não está aqui. Sem problemas, faço outro...

Mais uma vez você escreve com perfeição palavras oportunas e sentimento, mistura reflexões, sentimentos, desejos... Fico feliz, muito feliz de saber que faço parte de um pouco do que está escrito. Mesmo distantes, estamos e estaremos sempre juntos e a distância que nos separa - não é a primeira vez - pode afastar nossos corpos, impedir nossos abraços, o toque das nossas mãos, mas aproxima nossas almas e faz crescer o desejo de estarmos para sempre juntos, de novo.

Analu Bittencourt disse...

A distância, quando permitimos, muito nos ensina, mesmo quando nos machuca. Amo-te!